quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Prenda

Embrulhou a solidariedade
Numa caixa de promessas florescentes,
Com lágrimas sujas de indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Pela carteira competente.
Faltava o Laço!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
Era a prenda que da caixa ria baixinho!

Quero prata,
Quero ouro e diamantes,
Beleza intacta,
Quero minha mulher e amantes,
Quero preguiça, sorte e admiração,
Escravos, concubinas, exaltação;
Quero o fim acabado no início como dantes,
Regredir na opção,
E glosar a repetição,
Do sabor do meu poder,
Onde tudo voltará a ser
A força de minha razão!...
Então, até deus se postará,
Perante tão poderoso eu;
Será eficaz a mensagem
Para que me seja prestada vassalagem.
E tudo mudará!...
No esquecimento o que prometeu,
Não ser prometido o que esqueceu!
Serei, enfim, imortal,
E como tal,
Prometerei o que Deus não prometeu,
Haverá todos os dias um só Natal,
E ,_ pobre infeliz,_ não será o teu,
Mas, única e tão só, o meu!

Embrulhou a solidariedade
Numa caixa de promessas florescentes,
Com lágrimas sujas de indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Rematada com um laço de emenda!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
Era a única prenda,
Que dentro da caixa ria baixinho!

Olhos de luz cruzando a Natividade,
Como que enlaçando desejo e felicidade,
Numa volátil lágrima de cristal,
Talvez diluída na austeridade,
De um brilho frágil de Natal!

*
Há almas assim!...
Almas tão cheias de nada,
Pesando um universo de confusão,
Sobre a vontade da compreensão,
Que bem longe daquela “Estrela”,
Não trocando a avareza descarada,
Mergulham na vergonha roubada,
Nunca à pobreza estendendo a mão!
*
Há almas assim!...
A tropeçar no Natal indigente,
Pisando o Natal do mundo,
Ignorando o sentimento profundo,
De ser Pai de um Jesus diferente,
Sendo igual ao de toda a gente;
A esperança da imortalidade feliz,
Alimentada bem fundo,
Por toda uma alma nutriz!
*

Mesmo o hipócrita refém
Do egoísmo ausente de dor,
O desejo do Natalício calor,
Será sempre um apelo divino,
Que converterá todo o mal,
Na pureza inocente de um menino,
Nascido nessa noite de Natal!
*

Mas…
Ainda se encontra por aí,
Bem à nossa frente,
Um pouco de quem sorri,
No coração de muita gente!
Gente simples, simplesmente,
Tão simples por nada ter,
Dando tanto gentilmente,
Tão gentis por assim ser,
Embrulhando todo o Amor,
O futuro que vai nascer,
Com a felicidade de ser Mãe,
Não só de seu Filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também!
*
Deus meu, ajudai-me a ver
Que sentido fazer!
Guiai-me, um sinal fugaz,
Pelo estábulo, à manjedoura,
Onde possa eu ser capaz,
Afagar macio feno abençoado,
O sabor da esperança duradoura,
O nascimento do verbo encarnado!
Da cruz, no cântico, na bondade,
Pela tolerância, a piedade;
Mensageiro de Paz, Amor louvado!
*

Não!...
Não mereço tal privilégio,
Seria um sacrilégio,
Um pretensioso pecado,
De um pecador mil vezes arrependido,
Mil vezes repetido,
Mesmo que mil vezes perdoado,
E outras tantas decalcado!
*

Mesmo o hipócrita refém
Do egoísmo ausente de dor,
O desejo do Natalício calor,
Será sempre um apelo divino,
Que converterá todo o mal,
Na pureza inocente de um menino,
Nascido nessa noite de Natal!
*

Ainda se encontra por aí,
A felicidade de ser Mãe,
Não só do Filho, seu Senhor,
Mas de todos os filhos também;
A esperança da mortalidade feliz,
Alimentando carinhoso Amor,
Por toda uma alma nutriz!
A volátil lágrima de cristal,
Talvez já diluída no furor,
De um forte brilho de Natal.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Filhos Esquecidos


Quando te lembras de ti,
Sentes queimar tua existência,
Ouves gargalhadas de quem ri,
Ao lado de teu quarto dourado,
Cerras os dentes com violência,
Voltaste a ser desprezado!

Adormeces na madrugada fria,
Acordas sobressaltado,
Levantas-te a dormir, gelado,
Vais confirmar a cama vazia,
Ritual solitário de mais um dia,
Onde és o vizinho do lado!

Vai passando amargurado o tempo,
E não consegues encontrá-los,
Não aguentas o sofrimento,
Choras por querer abraçá-los,
Àqueles dois amantes,
Mas nada é como dantes,
Decides tornar-te violento,
Teu desejo é matá-los!

Friamente o plano cego é concebido,
Berlinde de neve que começa a rolar,
Vais lamentar ter fugido,
Ninguém te vai encontrar,
E se o destino te for fatal,
Enlouquecerão por terem sido,
Pais que um filho haviam esquecido!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Desilusão


O planeta está fraco,
Gasto,
Esquecido!...
O homem está doente,
Doido,
Varrido!...
A mulher,
Louca,
Fruto aborrecido!...
A vida,
Pincelada sem sentido!...
Desilusão!

Emprego é o cabo dos trabalhos,
Sarilhos!...
Tristeza ,
Impotência ,
Não sentir esperança!...
Medo,
Não saber o futuro de uma criança,
Desespero,
Ver os outros,
Nossos filhos,
Pena,
Ver num amigo,
Lágrimas sem brilhos.
Adeus,
Começar de novo sem uma lembrança!
Triste!
Desilusão…

sábado, 6 de dezembro de 2008

Holocausto canibal



Não pisarás o verde da terra,
Não verás o azul do céu,
Serás prisioneiro de guerra,
Serás réu,
E a justiça morreu!
Não verás uma alma bondosa,
Não verás um rosto rosado,
Não verás uma pele mimosa,
Não verás um corpo lavado;
Não terás um trapo,
Um trapo serás,
Morrerás de frio,
Serás um condenado nato!
Não encontrarás um rio,
Sentir-te-ás fraco,
Beberás ácido da bexiga de um porco,
Tua alma sorverás,
Comerás bocados de teu corpo,
Até pouco restar
Do teu filho inocente,
Rebento de teu sangue Comido ao jantar!
Mas resistirás,
A carne vais deixar de comer,
Teu corpo meio comido
Será nojento;
Arrastar-te-ás sem poder algum,
Já não serás violento,
Será teu refúgio o jejum,
Não falarás
Porque tua língua já comeste;
E cego como ficarás,
Do que sofreste,
Pouco verás!...

Definharás num pesadelo agitado,
Vomitarás tua mente distorcida,
Num asqueroso grito abafado,
Até tua alma ser digerida,
No caos da terra consumida,
Na vergonha do homem culpado.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Palavras


Palavras leva-as o vento,
O mesmo que as trás,
Palavras boas, palavras más,
Quando rápido pode ser lento,
Mesmo que brisa de um momento,
De um momento fugaz!

Palavras pelo vento semeadas,
Voam no reino do sentido, perdidas,
Procurando nas palavras, palavras amigas,
Amigas com alma ou até desalmadas,
Palavras pelas palavras fecundadas,
No útero do vento,
Pelo vento acolhidas!
Palavras boas, palavras más,
Palavras de um e outro momento,
Ansiosas no pensamento,
Sibilam tua volta, gritam que te vás,
Palavras, leva-as o vento!