domingo, 26 de julho de 2009

Da Orgia ao Avesso


Veio um eunuco, um pederasta e um proxeneta,
Um galopim que abrindo caminho badalava uma sineta,
Todos eles tendo na testa bordados de emulação,
Esvoaçavam na leveza de uma leve borboleta,
Prometendo prazer em caudais de dulcidão,
Tentador remédio santo para males do coração,

Carne mal passada em vez da habitual punheta!

Enquanto o castrado guardava o harém,
O proxeneta conferia doze putas mal contadas,

Deitando contas à vida de contas mal paradas,
Aguardava um cu impaciente sua vez também,
Ficando das esfomeadas escolhas muito aquém,
Vaginas de outras vaginas por elas enrabichadas!

Lá continuava o garoto badalando o chocalho,
Com um olho vesgo na puta e outro em seu vergalho,

As esposas do rei eram tentações das arábias,
Sempre guardadas eram cartas fora do baralho,
Trunfos maiores de arriscadas sequências sábias;
Mas... porque não jogar uma cartada?!...
O eunuco algum prazer há-de ter,
Sem seu badalo mulheres não podia comer,
Arriscando o jovem uma nova jogada,

Seduziu o guardião da tentadora mulherada,
Prometendo por ele algo fazer,
Mas...

O sodomita trejeitando doméstica enciumada,
Numa abordagem capciosa,
Intrometeu sua sodomizante língua gulosa,
Propondo uma sensual orgia combinada,
Sem vaginal concubina ou meretriz horrorosa!

Já doze línguas trabalhavam os clitóris do harém,
Sentindo línguas do deserto em seus clitóris também,
Quando o chulo desconfiando do número que viu,

Castigou a primeira fêmea em pleno orgasmo,
Que entrelaçada naquele entusiasmo,
Nem a pancada sentiu,
E vindo-se violentamente num longo espasmo,

De outros espasmos de prazer não desistiu,
Humilhando, assim, o reles homenzinho,

Que, cego pelo ódio de seu interesse mesquinho,
Em vez de uma das suas putas sem lei,
Agredira a mais bela das mulheres do Rei!...

Com cinco dedos bem fustigados na face delicada,
E um olho negro por conta da agressão,
Perdeu o proxeneta o tesão,
Ganhando uma certeza adivinhada,
De arrepiar machões de vida obstinada,
Capões inatos de falhada circuncisão,

Falo cortado pela cimitarra de um eunuco capão,
Castigada vida por reles vida castigada!

Entretanto, o corpulento e castrado guardião,
Confundido por um insuspeito plano inocente,
Deliciava-se com o garoto atrevido,
Que lhe sussurrava papilas húmidas no ouvido,

Estava ansioso pelo seu paradisíaco presente,
Irresistíveis mulheres ardendo em sangue quente,

Prontas para foderem um galopim perdido!...
E tudo corria bem;
O Eunuco em suspiros vibrava,
O garotelho em putas e outras mulheres pensava,
E, não havendo mais homens também,
Avançaram as putas livres daquele que as aprisionava,
Para satisfazerem seus desejos de mulher libertada,

Enquanto espreitava da sombra o harém,
Tremendo de desejo, embora com medo, porém,
Já que seu guarda ainda as guardava!...

O garoto já não tocava sineta,
Com 12 putas que se ofereciam,
Substituindo a sensaborona punheta,
O bacanal era um outro planeta,
Onde todos os sentidos se perdiam,

Pela passagem em chamas de um cometa,
Que incendiaria a alma de um inexistente poeta!

Escreveu a testemunha sobre este triângulo ordinário,

Descrevendo em acta o sentimento perdulário,
De um Eunuco que virou proxeneta meigo,
Um proxeneta que deu em guardião solidário,
Doze putas sem lei,
Transformaram-se no harém do rei,
E rainhas que mudaram seu vocabulário;
Quanto ao jovem leigo,
Esse aprendiz de fraco peido,
É príncipe da criadagem grei,
Literatelho de fraco povo literário!

Há quem não sendo, seja o que é,
Sendo que não é o que quer ser,
Parecendo não ser São Tomé,
Ainda que não vendo, o crer!

sábado, 18 de julho de 2009

Natural Ocaso


Secos Cardos e viçosas Urtigas,
Cansaço do corpo e mentais fadigas,

Genitais tristes sob verdejantes parras,
Agastadas formas cruéis de vulvas bizarras,
Virgens perdidas em doces labirintos de intrigas,

Jardins de flores murchas em estéreis jarras,
Felinos de porcelana despojados de suas garras,

Afiadas línguas desafiadas por facas nas ligas!

Suores na noite que não adormece,
Calor infernal que o coração não aquece,
Hormonas traidoras carregando pés-de-cabra,
Sanidade roubada com indiferença de ladra,
Pesadelo insone que não se compadece,
Em rezas pagãs ao sacro Anjo da Guarda!

Berços tenros de Urtigas viçosas,
Afrodisíaco leito instável de viril ardor,
Incontrolável apetite de vaginas orgulhosas,

Abertas coxas convidativas de fêmeas fogosas,
Gritam desesperadas o prazer da dor:
-Penetrem-me vosso seco fogo,
neste húmido fogo,
por favor!


Camas velhas dos Cardos que secaram,
Secando em sacrifícios de nutação,
Magnetismo seco de seca maldição,
Verdugos secos que o corpo castigaram,
Sequiosos úteros que Amor não geraram,

Ressequidos pénis de moribundo tesão!

Cardos

UrtigasCada um em seu deserto,
Trocam seus olhares que definham,
No ocaso da vida com a vida aqui tão perto!

sábado, 11 de julho de 2009

Veredas da Solidão


Meu frémito de teu não indiferente,
Ruiu esperanças pela tua recusa,
Aludindo o poder de ténue e fingida musa,
Não disfarça bonomia complacente,

Para com minha incauta traição indecente,
Que a teu pedido de ti abusa!

Acolhes todos os lastimosos madrigais,
Lástimas flutuantes onde tu és âncora servil,
Jogada à sorte de nefastos e rasos cais,
Servidão resignada nos ancoradouros habituais,

Hábito contagiado por envergonhado argumento vil,
Cismas que cismam nos floreados de um ardil,
Palavras que se afogam em saliva de mil jograis!

Tropeçam histriões em beijos de doce fel,
Curvam-se ignaros à luz de apagadas luminárias,

Lamparinas que iluminam provas de amargo mel,
Poemas fingidos de falso menestrel,
Sombras que escondem escorraçados párias,
Sendo de si sombras em sombras várias,
Feras indomáveis em obnóxios tigres de papel!

Semântica das virgindades que se repetem,
Idiolatria dos mofinos sem adoração,
Perdidos hímans rompidos que se intrometem,
Esperando que milagrosos hífens os completem,

Entre a esperança do pecado e a contrição,
Seduzindo corações de Deus em sua confissão!

Aguarda o silêncio do outro lado impassível,
Fechado na idiólatra prisão que do avesso te virou,

Palavras convenientes são tudo que restou,
Oferecendo cada visita indiferente dor insensível,
Em certezas de Liberdade certa falível,

Ainda que voem com as asas de quem voou,
Sentirá no osso a dor daquele que tombou!

Pelas veredas onde com a solidão caminhas,

Esse caminho mais curto que alguém te mostrou,
É percurso sem saída que tu não adivinhas!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sereias de Areia


Naveguei mares de fome rasgando celestes firmamentos,
Bolinei triângulos de velas enganando traiçoeiros ventos,
Fui açoitado nos promontórios dos corpos que percorri,
Sonhando fêmeas em cada costa que por elas submergi,
Possuí a histeria das bruxas em penetrativos tormentos,

Nadei de vértebra em vértebra saboreando costas de ti,
Acabando clandestino castigado por tão febris intentos,
Onde lambi o convés de teus naufragados sentimentos,
Saboreando grilhetas de sal que do teu tesouro senti!

Encontrei-me parado no tempo de finas areias,
Gravei seu nome gasto em cada anónimo grão,
Juntei búzios mágicos em hipérboles de minhas ideias,
Fitei meu mar encantado por minhas supostas sereias,
Esperando por elas em sereias de minha inspiração;
Pensava estar seguro nos braços seguros de Zeus,
Esperança à deriva em espumas de imensidão,
Ressaca repousada em carinhos de abraços meus,
Castelos de areia em discípulas metáforas de Deus,
Ode minha cantada pela faina sagrada de seu coração!

Desbravei virgindades em bateis solitários,
Arcas douradas prênhas de negros dobrões,

Ensaiei abordagens com a carta dos corsários,
Autorização de Reis passada aos mais fiéis ladrões,
Afundando promessas gravadas em meigos corações,
Diário de bordo escrito com sal de prazeres vários!

De tão rico tesouro real restou o broche prometido,
Enterrado na areia de teu corpo de mim escondido,
Trabalhei entre tuas pernas de mar com afinco de grumete,

Descobrindo finalmente teu tesouro, fruto do mar proibido!

Navegando minha língua guiada por teus astrolábios,
Encontrei continentes de prazer em teus desejos sábios!