segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Defeito da Virtude


Este calor que abafa o discernimento,
É anaeróbio defeito de Agosto,
Entre asfixiante virtude entreposto,

Fugindo ao ensinamento,
Do inalcançável entendimento,
Arquitectado na estrutura do perfeito rosto,

De um intencional arrefecimento!

A virtude é um cubo em arestas de gelo,
Ausente das paredes que o sustentam,

Com ângulos de perspectivas sem apelo,
É ângulo flexível de quebrado cotovelo,

Dor insuportável que soporíferos aguentam,
Fazendo de conta nas contas que inventam,
pertinaz empenho cego de obscuro zelo!

Pobres poetas e outros miseráveis,
Caminham em abraços no prazer da conivência,

Comungam de pão divino que se bifurca,
Afogam-se em sangue de vinhos lastimáveis,
Afagando rostos imaginados de irresistível aparência,
Acordos tácitos de egoísta convergência,

Subtileza manhosa que o incauto deturpa,
Deturpando virtude de defeitos louváveis,
Com o efeito do defeito em virtudes reprováveis,
Que a violência do verbo usurpa,
Visando o fim que o princípio conspurca,

O mesmo princípio de repetida persistência,
Repetindo anáforas de final contingência!

Mas este foi o Mês de Agosto,
O Mês de poucas virtudes... e muitos defeitos,

A denúncia de surpresos conceitos,
A confissão atroz de desconhecido rosto,

Tristeza feliz de alegre desgosto,
O fim inacabado dos Krystais perfeitos!

Agosto, será sempre o Mês de Krystal,
Será DiVerso sem preconceitos,
Será o defeito da virtude natural!...

Apenas o defeito revelado de Agosto,
Na virtude de um Poema... sem rosto?!...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Antes Prevenido...



Do Filme*"The Boat That Rock"*Richard Curtis (2009)

domingo, 23 de agosto de 2009

O Hipócrita


Tudo na Vida,
Tem uma medida,
Pode ser grande, estreita ou até sem saída,
Pode ser ínfima Hipocrisia de Hipocrisia incompreendida!...
Tudo na Vida tem um peso,
Carga leve sobre teu insuportável poder indefeso,
Derrota esmagadora da qual sais ileso!...

A vida é uma razão fodida,
O fingimento ao qual te sentes preso!

Anjo sombrio, esse estupor,
Tinha uma admirável balança,
Não como a da Justiça em sua justa herança,

Num prato punha o Amor,
No outro a falsa esperança!...

Cravos entre coágulos oxidados,
Crescem no sofrimento do estigma,

Para o espírito pobre será sempre um enigma,
Para os hipócritas ricamente compensados,
Serão martelos cravando o paradigma,

Nos valores humanos crucificados,
Tão fartos de amargos cravos glorificados,

Sustentados por falsa cruz fidedigna!

Quem quer sentir uma chaga de Cristo crucificado?...

Bem no âmago do Amor desperdiçado,
Não desse Amor que arde no oportunismo viciado,

Daqueles que semeiam a ilusão,
Entre o raciocínio animal sem razão,

E o sexo premeditado,
Na promessa conjurada de triste condição!

Quem quer um Estigma de Cristo?...
Eu sou vossa sexta Chaga na qual resisto,
Restam as cinco da Crucificação:
Tórax, Punhos e Pés do Justo condenado,
Julgado pela Hipocrisia do Hipócrita revelado,
Na certeza de adivinhada confirmação!...
Ainda querem uma cruel Chaga do inocente castigado?!...
Ergam os olhos bem para dentro de vossa consciência,
E tenham a humildade de aceitar sua beneplácita clemência!

Anjo sombrio, esse estupor,
Tinha uma admirável balança,
Não como a da Justiça em sua justa herança,
Num prato punha o Amor,
No outro a falsa esperança!...
*
És esperança de teu próprio fruto imortal,
Esperança perdida de tua inacabada árvore genética,
Flor de laranjeira em virgem declaração Poética,

Coroa de pureza elaborada em teu ritual,
Vida coagulada escorrendo do Santo Graal,

Copiando formas de querer estético,
Ilusória imagem de teu sangue virginal!
*
Hipócrita, esse grande estupor,
Grava hipócritas métricas de desmedido sal,

Em lágrimas salgadas de fingido Amor!
*

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quem-me-Deras


Encontrei uma Quem-me-Dera debaixo da Esperança,
Quem me dera o que dela por mim se perdeu,
E quem por ela se perderia fora eu;
Sou Quem-me-Dera da Quem-me-Dera que não alcança,

Dera por ela em Quem-me-Deras de despeitada vingança,
Por Quem-me-Deras que nas Quem-me-Deras se desvaneceu!

Foram semeadas Quem-me-Deras entristecidas,
Em jardins de Quem-me-Deras sem cor,
Falam em Quem-me-Deras de amor,
Quem-me-Deras por todos apetecidas,
Arranjos desflorados de Quem-me-Deras Floridas,

Floristas tristes em Quem-me-Deras de dor!

Pudera eu dar alento a quem-me-dera,
Não me dando a quem eu não quisera,

Querer de mim quem de ti soubera,
Quem de ti, por mim, sempre soubera amar,
Soubera eu partes que de mim dar,
Dando múltiplos do que não me deste,
Quem-me-Deras de tua indiferença agreste,

Asfixia transbordante de comprimido ar,
Oxigénio vivo que de alguém fizeste,
Respirando Quem-me-Deras do que disseste,
Quem-me-Deras confessadas de teu pensar!

Quem-me-Deras,
São como quimeras,
Quimeras de Quem-me-Deras,
Primitiva cobiça prenhe de ilusões,
Gestação traída por prometidas esperas,
Quem-me-Deras de traídas traições!


Esquecem as Quem-me-Deras de regar o Amor,
Com Amor de Quem-me-Deras arrependidas,

Quem-me-Deras cobiçadas por qualquer estupor,
Sem Quem-me-Deras no jardim de suas vidas!


Ainda que sejas quem Quem-me-Deras não tem,
Terás uma Quem-me-Dera cobiçada por alguém!...


*

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Elo dos Oráculos

Esvoaçavam esbeltas as mariposas em sua beleza,
Descansando transparentes asas que o vento embalava,
Adormecendo-as na anestesia serena do sossego,
Quando em chumbo transformadas pesaram a tristeza,
Caindo em si num voo picado que o chumbo denunciava,
Desfragmentando mil coragens num único medo,
Dando asas a negras asas de negro degredo,
Penumbrando a luz do eclipse que iluminava,
O jardim celeste agora de certeza apagada,
Onde quatro folhas caíram de um obscuro trevo,
Sobre palavras desmaiadas no sortilégio de um enredo!
*Adivinham-se mosquitos por cordas,
Comem-se gatos pardos por cio de lebres extintas,
Lêem-te mentiras para que por ti não mintas,
Reiteras a disciplina errante de engajadas hordas,
És o número redondo que em ti, de ti não recordas,
Cilha da albarda elaborada de tua premiada precinta!
*
Regressaram oráculos menores,
Ratos pelados em película aderente,
Não desses ratos de igual peçonha diferente,
Ratos e ratazanas de inspirações maiores,
Senhores das predições e outros folclores,
Rédea solta sem freio inteligente!
*
Quebram-se elos seguros de mau olhado,
Os mesmos elos onde os sonhos preguiçavam,
Reforçando a preguiça de um sono reforçado,
Sonolento despertar para olhar desconfiado,
Por olhos desviados dos olhos que amavam,
Amores fugidios que a eles se entregavam,
Falsa paixão ilusória de um engano envergonhado,
Escolhida no acaso das coincidências que aguardavam!
*
Sentados em dunas de nostalgia,
Entre mãos cúmplices que não se tocam,
Observam quarto minguante que na lágrima flutua,
Olhar silencioso de melancólica eupatia,
Descrentes na noite sem a luz mágica da lua,
Cores perdidas no arco-íris da utopia!
*
Regressaram mais santificados oráculos,
Predizendo fúnebres traições do passado,
Multiplicam-se ventosas de viscosos tentáculos,
Na clareza óbvia do óbvio gizado,
Letras engenhosas de fino traçado,
Palavras melodiosas de admiráveis cavernáculos!
*
Solda-se a frio o elo quebrado,
No chumbo que abateu a extinta lebre,
O mesmo chumbo derretido noutros obstáculos!
*
Afinal comandam os mosquitos,
Confundidas cordas de articulados homenzitos!