quarta-feira, 24 de março de 2010

O Homem




Todos os dedos da Humanidade são poucos,
Bastando-se num envergonhado resultado final,
Na conta perdida do número de candidatos a Judas,
Descrentes espoliados por pobres crentes loucos,
Vendendo sede em unguentos antigos de fel e sal,
Pérfido néctar servido em acusadoras palavras mudas,
Dogma instituído na sodomia de sagradas fugas,
Forja de cravos peregrinos em cruz sacrificial!

O Homem!...
Que pelo homem foi atraiçoado,
Pecado eterno que a ignorância corrompeu,
Traição eterna que o Homem não mereceu,
Arrependimento fatal do homem enforcado,
Trinta dinheiros suicidas que o homem pagou,
Ao homem fraco que o homem entregou,
Traidor amigo, pelo Homem perdoado,
Perdão que sua morte o homem beijou!

Todo o peso da culpa sobre sua inocência,
Madeiro pesando o sofrimento dos nossos pecados,
Leve pela oferta de Amor aos pecadores perdoados,
Nada pesando na entrega de sua sagrada consciência!

-Pai!...
Rezou,
-Perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem!
E a Via-Sacra atravessou!

Monta-se o espectáculo e cobram-se ingressos,
Entre o Céu e a terra aposta-se na crueldade dos cravos,
Acreditar na Justiça da bondade é coragem dos bravos,
Exibe-se o sofrimento de Cristo em sorvos de excessos,
Embriagando os pobres espíritos pela maldade possessos,
A entrada é grátis e só à saída se pagam os pecados!

Pregado na Cruz de nossos olhos envergonhados,
Ouvimos nossa vergonha em actos de contrição confessos:

-Pai, entrego-me em tuas mãos,
Exalou o Homem Justo perante o olhar fariseu;
-Está tudo consumado!
E com estas palavras morreu!...

Lavam as mãos bem cuidadas os Pilatos,
Em escravas bocetas de epístolas sagradas,
Onde sangram jovens mulheres condenadas,
Marcadas pela cruz pesada de funestos actos,
Por corroídos cravos de luxúria penetradas,
Trespassando carne infecta de úteros ingratos,
Oferecidos ao vício de vergonhosos tratos!

Em cada homem há um triste dom,
Vender a Alma aos prazeres do inferno,
Fugindo ao prazer limpo do Amor eterno,
Crucificar a salvação do Homem bom!

sexta-feira, 19 de março de 2010

21 Amores-Perfeitos



…talvez uma Flor,
Entre todas um Amor-perfeito,
Mimada menina de sorriso suspeito,
Corpo delicado denunciando meu rubor,
Entre Amores-perfeitos, um perfeito Amor,
Flor de primavera colhida com terno jeito!


Como tão tenra Flor,
Tentação irresistível de Amor,
Foi tão poderosa tentação,
Perdurando tentadora paixão?!...
E perdura sem perder sua cor,
Entre páginas de nosso coração,
Livro que Amamos com fervor,
Dicionário de infinito valor!


Quando numa nuvem que se desvanecia,
Erigi um enigma com o verde do teu sorriso,
Decifrei por ti teu desejo ingénuo que crescia,
Nos fragmentos misteriosos de minha ironia,
Desvanecendo-me num sentimento indeciso,
Entre a nuvem que ficou e um verso impreciso,
Desejando abrir teu livro em teu corpo de poesia!


Segredou-me uma abelhinha,
Voando num cantinho da Lua:
-Tua madrugada para ti se insinua,
Esperando o sol que se adivinha,
De princesa de luar a luz de rainha!
-Confidência que o enigma tem como sua!


Teus lábios ardendo em fogo atrevido,
Bailavam no fogo-fátuo do pensamento,
Apostaram na frivolidade falsa do momento,
Mas, de frívolo, que o beijo até podia ter sido,
Foi um desejo intenso pelo Amor bem medido,
Mão de Deus em abençoados jardins ao vento,
Abençoando um florescido primeiro rebento!


Sobre mares incertos de espinhos pungentes,
Amores-perfeitos em ínsulas de rosas emergiam,
Transformando-se em mãos de Deus que protegiam,
Metamorfoses de flores em jangadas de novas sementes,
Apelavam a mais desejo pleno de seus Amores conscientes,
Inconsciência dos Amores-perfeitos que o Amor sentiam!


Segredou-me uma abelhinha petulante,
Voando de flor em flor no nosso jardim:
-O pólen de Janeiro é fecundante,
Em 19 de Março, dia do pai é ternura cintilante,
É a sagração do Amor-perfeito na resposta do sim!
-Pesaram-se na balança de Outubro tuas flores de mim!

De tão leve, o tempo que nos é oferecido,
É Amor só nosso em coração do vento amigo,
Que entre ciclones de verão e brisas de inverno,
A Primavera de Pai é fértil esposa de Amor materno,
Árvore de Outono plantada em meu solo, teu abrigo,
Sou teu alimento seguro, sagrado de Amor eterno,
Rico para além do ouro, de teu Amor é mendigo!


Só minha tristeza nosso Amor não merece,
Mas de tão feliz, meu coração entristece,
Porque o tempo passa sem deixar o perdão,
Deixando a certeza da vida que fenece,
No Amor imortal de nosso coração!


Foram breves estes vinte e um tenros anos,
Tão intensos quanto nossa natural ambição,
De tão dignos no melhor ser dos Humanos,
Que o Amor a ninguém cause tristes danos,
Todos os corações o mereçam com elevação,
Se perdidos, o melhor do respeito na redenção,
Bordados de Amor na Alma dos melhores panos!


Que todos, todo o Amor saibam oferecer,
Porque só esses, o Amor poderão merecer!
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