terça-feira, 27 de julho de 2010

Girassol das Margaridas



Um caloteiro sem dívidas que a todos as flores devia,
Não devia qualquer dúvida à certeza de calotes a não saldar,
Atraindo investidoras com persuasivas juras do amor a pagar,
Contraía no acto do intento um sincero calote de franca garantia,
Que Assinava com todas as letras falsas de sua desfaçada ousadia,
Numa caloteada palavra de honra perdida que ficara por cobrar,
À desfaçatez de um vigarista orgulhoso dos logros que infligia,
Malogrando altruístas que até egoístas gostavam de ajudar!

Era um vistoso girassol de saloia inclinação,
De hábito fixado na manigância de eloquentes cantigas,
Murmurava mágico pólen de amor a ingénuas margaridas,
Seduzidas com deleitosas promessas de fidelíssima paixão,
Estimulando a libido silvestre que as imbuía de tão quente tesão,
Até lhes foder o fraco discernimento de ver suas fortunas perdidas,
Em cegas pétalas prostradas num deplorável estado de negação!

Acabam as margaridas nas mãos ávidas de quem sorteia um Amor,
Sentem cair suas pétalas abusadas em desejos de Destino salteado,
Bem-me-quer trás um belo girassol que pelo Sol está assombrado,
A pétala seguinte, uma expectativa de tia que aumenta seu temor,
É malmequer decidido ao acaso que, por acaso, é de pouco valor,
Por não ser a derradeira pétala de uma fraca margarida torturada,
Que deslumbrada pelo caule erecto de uma planta de forte alvor,
Esquece-se de sentir o verdadeiro calor que de sua Luz emanava!

Foi do desgosto salvada por um girassol de beleza magnética,
Reverdecendo as singelas margaridas de ilusões sem dignidade,
Que, agradecendo, escancaram as pétalas húmidas de vaidade,
Esquecendo náusea vegetal de sua própria integridade patética,
Confundido esterco de uma estrumeira de estremada dialéctica,
Por mais um girassol escorraçado pelo Sol sem raios de piedade!

Bem-me-quer
Malmequer ou Margarida,
É não saber se é azar de o ser,
Se é girassol ao anoitecer,
Ou pétala sem vida,
De uma dívida prometida,
Por quem só espera o amanhecer!

Alimentam-se de tristes pétalas dadas ao abandono,
Os girassóis que por aí regam margaridas abandonadas,
No intuito de ser um Bem-me-quer desesperado, seu abono!


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pirografia nas Lacunas


Como uma cicatriz de Amor jurada no veio da ferida,
Jura omnipotente de um Amor por Amor embargado,
Silêncio consentido das marcas dum segredo amargado,
Que na silenciosa sombra rasgava a débil mágoa fendida,
Cicatrizando a dor quer por Amor era dor de si escondida,
Na aparente solidão escondida do mesmo Amor castigado!

Não podendo mostrar todo o Amor que pelo Sol sentia,
Mostrava-se vazia de Luz nos dias onde o Sol o escondia,
Despida de sua sombra rebelde que a tristeza costurou,
Com agulhas tristes do coração que enternecido serzia,
Incandescendo silêncios que o Destino na alma ponteou,
Picotando o anelar sem dedal que desprotegido sangrou,
Trespassado pela agulha distante que o sangue expungia,
Escorrendo-o sobre a tesoura que sua felicidade cortou!

Sabendo mostrar o segredo que por Amor sentia,
Resguardando-se numa reserva de paz melancólica,
Comemorava cada momento com felicidade simbólica,
Não deixando que Amor mentido soubesse que mentia,
Ao revelar o Amor de gradadas noites pela Luz do seu dia,
Luz celestial possuída pelo desejo de uma paixão diabólica!

No desencontro das horas pirogravava breves momentos,
Queimando a carne com instantes de tórridos sentimentos,
Delineando contornos na injustiça de incendiadas lacunas,
Cinzas de omissões desfragmentadas em vários elementos,
Separados entre si à distância aprazível de mãos oportunas,
Que gravando cornucópias triunfantes de humanas fortunas,
Cicatrizam doces emendas distantes com poéticos segmentos,
Incendiando de liberdade a loucura de secretos movimentos!

Agulhas incandescentes flutuam sobre oceanos de salvação,
Gravam águas salgadas com a fervura de um Amor impossível,
Salvando prazeres que emergem da profunda distância sensível,
Pelas lágrimas que se afogam entre o sal que queima de sedução,
Ateando o fogo que aceita no frio insensível do prazer em negação,
Desencontrado das horas onde a diferença é igualdade compatível!

Porque a agulha que atravessa o coração é incandescente,
Ainda que a desigualdade pareça o frio de uma Luz mais visível,
Complementam-se nas semelhanças das verdades de quem mente!