segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Fim do Tempo que Vem

*
O Fim do tempo que nosso tempo de mãos abertas aguardou,
Como se de um tempo de todos os tempos nosso tempo tratasse,
Por cada tempo que no tempo passou e parado no tempo aguardasse,
Aguardando naquele tempo tratado que pelo tempo o tempo tratou,
Acordo temporário gravado na Esperança que no tempo perdido gravou,
Esperanças temporãs do tempo na espera que o tempo fecundasse!
*
E o tempo que sempre passa,
Passa por não ser o tempo pelo qual teu desejo passou,
Passando por ser tempo escondido de nova esperança traída,
Não passa de adiado tempo passado por momentos de fé vencida,
Vencendo os mesmos momentos que o tempo de ti e por ti se guardou,
Guardando teu resguardado tempo que no tempo certo do tempo se libertou,
Voando nas asas do tempo em adejado voo sobre tua hora prometida!
*
Mas tudo que do tempo resta é a silenciosa profecia caída em graça,
Desgraçada na ideia calada do tempo de sempre que passa!
*
São bem vindas chaves de ouro que brilham no tempo fechado,
Olhos fechados de promessas douradas semeadas no credo do tempo,
Fechaduras intemporais das palavras prisioneiras em celas de vento,
Brisa que desliza nas goelas de um passageiro por alguém arrebatado,
Descrente de tudo na crença do nada é falsa volta de pião desatinado,
Rodopiando no avesso do sentido contrário à mágoa do desalento!

*
Fechaduras de mil línguas que dos tempos fantásticos se servem,
Portas fechadas que de tempos a tempos prometiam abrir-se ao alento,
Do último dia, volta o primeiro de onde as mesmas dúvidas se erguem!
*
Mas tudo que do tempo resta é a silenciosa profecia caída em graça,
Desgraçada na ideia calada do tempo de sempre que passa!
*

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desausência ausente (Vão de Ausências Vãs)


Procurando certezas no labirinto fechado dos dias,
Tenteias corredores onde não encontras o que procuras,
No equilíbrio vão contornas-te em tuas linhas inseguras,
Contorcendo atrevidos ângulos curvos pelos quais te guias,
Visão azimutal reconstruída no círculo que só tua vias,
Clarão de teu Destino, prisioneiro de tuas agruras!

Navegando sobre tua água que alguém não soube,
Naufragou no Amor vão de quem pouco amou,
Abraço das Ondas que o braço do Oceano abraçou,
Oceano minúsculo onde um Mar de Amor não coube,
Distância salgada que a Amor doce pouco soube,
Causa de sede distante que teu desejo não saciou,
Amar de sal onde teu potável Amor afundou!

Naufrago sedento nesse teu sal que me alimenta,
Cresce minha sede que por tua ausência me atormenta,
Vã tormenta salgada possuindo-me em turbilhão de sede,

Sede sagrada benzida em Oceano intransponível de água-benta,
Água baptismal que tão perto de tua alma à deriva esteve,
Baptista de nossas almas gémeas salvas nos nós de nossa rede,
Ausência doce que ausente de nós na salácia concentida se assenta!

Ausente enquanto navegas velas rasgadas de tua memória,
Desato o nó sagrado do cruzamento que por ti se aguenta ,
Liberdade conseguida na vã ausência que te leva à Victoria!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Abraço Triste do Nosso Sofá


Colhidos no sofá,
No conforto em que nos amamos,
Provo fungos mágicos em ideias que cultivamos,
Cioso de minha certeza na certeza que não há,
Esfiapo alucinações num fiapo que sobrará,
Fio fino amarrado ás dúvidas que despojamos,
Visão alucinada dependente do que não se verá!

Crescem cogumelos em coleantes sofás mundanos,
Zig-zag envenenado entre nuvens de luz confusas,
Metamorfose psicadélica em raios de traições difusas,
Poeira que flutua na órbita de teu corpo celeste,
Arcada orbital tua de minhas ténues visões oclusas,
Formas de teu corpo que delas por mim se despe,
Amanita ressuscitante de vida que por ti se veste,
Conforto no aconchego fraco de vistas obtusas,
Alucinatório de improvisada cama agreste!

Aludas solarizadas em frascos de mil cores,
Nadam intermitentes em filtros de asas casuais,
Desaparecem no desencontro de mil neons brumais,
Afogados voos comprimidos na descompressão de mil amores,
Alucinando prólogos finais em assinados sofás pensadores,
Personalisando efeito vertiginosos no ciume dos sinais,
Singular refúgio acolhedor, analgésico de mil dores,
Susceptíveis trips de mordazes despeitos fatais!

Só, em nossa fria cama de triste solidão imensa,
Recolhes-te em concha de pérola solitária abandonada,
Implodes teus gritos silenciados por tua dor intensa,
Bebendo tuas lágrimas imerecidas de imerecidas ofensas,
Aumentando a certeza de minha sede de dúvida revoltada,
Me enchendo na fome de ti por tua ausência subordinada,
Imenso Amor aflitivo que teu Amor aflito não dispensa,
Exíguo conforto recostado no medo de tua sentença,
Minúsculo sofá nosso, noites frias de minha madrugada!

Lágrimas solarizadas sob copas de laminadas alucinações,
Filtros tingidores de nossa alma que novas cores abomina,
Procuram a brancura de lençóis que a clareza reanima,
Rasgando adrenalina míope de conseguidas ilusões,
Mistérios desvendados na consciência dos corações,
Irresistível tentação prismal que por ambos se aninha!

Lágrima triste que nosso choro não chora,
Escorre em nosso sofá negro que me recebe,
Análise deturpada afogando quem de si bebe,
Alaga tua almofada enchida com sonhos d´outrora,
Só não mancha os lençóis que nosso Amor vigora!

Quando pensares que um sofá é cama segura de acolhimento,
Capaz de apaziguar o venenoso cogumelo fodido que te devora,
Sentirás numa só noite a verdade de teu verdadeiro sentimento!

domingo, 22 de novembro de 2009

Pecado Mortal


Do Filme "ANTICHRIST" de Lars Von Trier (2009)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Castanhas de Teu Ouriço


Desapegada no destino pelo ramo de seu senhor,
Cedo sentiu-se despida do protector seu manto,
Que delicado causou cobiçadas causas de espanto,
Ainda que vestida em matiz de castanho tentador ,
Brilhava envolta num orvalho de feliz pranto,
Liberdade grata ao abandono em antecipado alvor,
Sentiu-se a pretendida em seu pretensioso rubor,
Enfeitando a madrugada com seu Outonal encanto!

Casta castanha que do castanheiro se desprendeu,
Nascendo para ser casta igual a tantas castas iguais,
Geminada em três irmãs geminadas em outras mais,
Espinhos de viçoso ouriço que por elas sofreu,
Alcofa segura que em abraço sempre as protegeu,
Em armado seu peito de suspeitos espinhos fatais,
Jurara separar-se delas se nelas sentisse seus ais,
Abrindo-se delas pela natureza que o convenceu!

Apetite vicioso da boca ougada por ti aguada,
Exposta carne despida da mais fina pele tua,
Desejo seco pela tua bravia forma descascada,
Secando no desejo de irresistível castanha pilada,
Pilada por desejos febris no teu Sol de castanha nua,
Vai secando paciente na fornalha fria que desagua,
Como fogo chegando no vento da corrente soada,
Ecos ávidos colhendo-as entre uma carícia disfarçada,
Passam subtis movimentos pelo cu tenro da castanha,
Denunciando o ciúme que por outra castanha se amua,
Sedutor ciúme fraterno colhido do ouriço que arreganha,
No calor do brasume que seu corpo adoçado acompanha,
Prémio ou castigo em noite farrusca de castanha assada,
Onde arde de desejo a boca que por elas se assanha!

Diferente de suas irmãs vestidas com casca talhada,
Castanha morsecada por dentes que a hão-de morder,
Será cozida em delicioso desejo de a lamber;
Castanha cortada em fino corte frio de navalhada,
Assará em delicioso brando desejo de a comer!
Castanha esquecida,
Que os olhos não puderam ver,
Castanha virgem consumida,
Atirada para a fogueira abrasada,
Incha numa contida e quente gargalhada,
Que soltará rebentando numa boca atrevida!

No souto farto em solo de teu incansável coração,
Castanhas Piladas envelhecem para um prazer tardio,
Guardando-se para especiais momentos de paixão,
Admiráveis momentos selvagens de prazer vadio!

Frutos teus que conservam teu misterioso feitiço,
São tua enfeitiçada doce tentação,
Castanhas de teu Ouriço!
*

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Abcissa de teu Tapete


Tapetes sob tua existência submissa,
Cobrem teus vitupérios oferecidos à razão,
Certeza variável no domínio da função,
Corpos despojados no leito de uma abcissa,
Erro da ciência exacta que teu desejo cobiça,
Incógnita convertida em seduzida possessão!

Varrem teu corpo para fincados corpetes,
Finas fitas de cetim asfixiam delicados tapetes,
Tez de seda tatuada por mil agulhas de morfina,
Pigmentação irreversível do desígnio providencial,
Ópio injectado em tua prostituída auto-estima,

Renúncia tua servida em orgíacos banquetes,
Oferta sacra dos sacrificados corpos sem ritual,
Enxofre ardendo em esverdeado pus celestial,
Envenenada neblina de tua Alma que por ti definha,
Varrida beleza tua, perdida em tua aura divina,
Vassouras de teu desejo por sexo ornamental,
Sapatos ricos atravessados por mil alfinetes,
Sobre o capacho de teu imerecer natural!

Entrelaçam-se incógnitas de teu lânguido olhar,
Estrangulando o frágil eixo de teus nagalhos,
Das pesadas paralelas que sobre ti juram amar,
Medindo distâncias no gráfico de teus atalhos,
Encontros calculados em pontos de teus retalhos,
Fragmentos levantados em lágrimas de teu chorar,
Imagem que se desvanece no perdão de teu pesar,
Exactos cálculos de tristeza traçada em enxovalhos,
Cálculos enganosos que por ti prometeram jurar,
Quadrantes escorridos de teus baços orvalhos!

Tapete voador por teu corpo alado,
Asas de teus gémeos corações que por ti voam,
Anátemas descoloridos que teu sofrimento entoam,
Perseguindo o futuro que passou de teu esquecido passado,
Na geometria perfeita de um invisível círculo fechado,
Calculada perfeição que sentimentos magoam!

Estendido teu corpo abandonado,
Tapete gasto por incógnitas que nele se limparam,
É uma equação repetida e gasta pelo coeficiente ignorado
!
*
***
*

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sweet Sixteen (aniversário)



Tudo começa pela entrega que se oferece,
Dando à certeza um Amor que acontece,
Acontecendo Krystal escolhida pelo Destino Disperso,
Paixão de Amor Respeitado na lucidez de um Universo,
Onde continua germinando o Amor que no Amor floresce,
Pais-Poema feito de Filhos, o mais Amado Verso!

*
Aconchego na memória,
Aquela superior glória,
Dos doces dezasseis anos,
O triunfo da sabedoria simplória,
A certeza do que não pensamos,
Pensando que não nos enganamos,
Apostando no reescrever da História!

*
Repete-se a mesma paixão que não passa,
Na certeza da escolha confirmada pelo desejo,
Partida que do tempo é um ofuscante lampejo,
Brilho de Paixão nossa que nossos versos abraça,
Abraçando Amados Poemas que o sangue traça,
Desenhando anos gravados no prolongado ensejo!
*
Agora são dezasseis deuses donos de toda a vontade,
Por cada ano passado um deus maior se agigantou,
Tomando como sua a consciência da qual se apossou,
Revelou-lhe pecados com autoritária legitimidade,
Assinando na palma da mão berços de fertilidade,
Primeiros passos de filhos que nosso tempo consagrou!
*
São génios perdidos no labirinto transitório,
Procurando saídas na entrada de puzzles incompletos,
Moldando-se na peça que falta em esforço inglório!
*
Na vanguarda de suas confusas opções,
Alimento a incapacidade de decisão,
Perco a sensibilidade, pouco vejo,
E tudo por ele passa sem que se aperceba!

domingo, 11 de outubro de 2009

Pretéritos Mais-Que-(Im)Perfeitos

*
Comemoram-se certezas dos pretéritos imperfeitos,
Na perfeição cega dos pretéritos que não enganavam,
Compondo formas do prolongamento que atravessa,
Amanhecidas amnésias de pretéritos defeitos,
Imperfeitos epitáfios que sortes findas dominavam,
Louvores próprios que o próprio pretérito expressa,
Louvando suas promessas vendidas na promessa,
Promessas prometidas no leito de alheios leitos,
Tão alheios que deles outros pretéritos esbulhavam,
Particípios passados por pretéritos crentes que vagavam,
Abrindo álveos acolhedores de caminhos insuspeitos,
Chorrilhos sem fim dos prometidos passados perfeitos,
Verbos de papel que na límpida água se afogavam!

Pretéritos mais-que-perfeitos arrependidos,
Sempre dependentes dos Amores que conquistara,
Contara pretéritas estórias inventadas a fiéis inimigos,
Atrasados no encontro da partida de quem regressara,
Quando voltou a partir com o regresso que voltara,
Na passada gravura, essa marca futura de perigo,
Imperfeitos tempos consagrados em infiéis amigos,
Amores de imperfeitas certezas que o tempo alcançara!

Guarda-se na memória o Futuro do Pretérito que chora,
Sabendo que se soubesse, saber seu futuro não saberia,
Sabe de sua tristeza que nem por ódio nem Amor trocaria,
Preferindo efémeras paixões desvanecidas na aurora,

Desencontro de tempo que o verbo escolheria sem demora,
Se outros tempos permitissem visão do tempo que viria!

Voltou o Pretérito Perfeito que sua sorte porfiou,
Lutou cegamente cegando seus olhos que o cegou,
Obstinação dedicada ao que por seu Amor sentia,
Recorda os crepúsculos onde sua paixão dormia,
Desperta madrugada que por ele se apaixonou,
Fresca alva que ao tempo do verbo se oferecia,
Em frescos ímpetos da emoção que florescia,
Cama florida onde platónico passado se deitou,
Alimentando vazios nadas do nada que fenecia,
Renascendo do nada o pouco mais de nada que restou,
Perfeitos e imperfeitos nadas que a razão desprezou,
Cultivado pretérito que aos pretéritos se oferecia!

O que passou, passou, em todo seu pretérito indubitável,
Não é a morte do tempo que pelo tempo impávido passa,
É o grassar que se transfunde em cicatriz inevitável!

*

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Mosto de Teu Rosto

No
Mosto

De
Teu
Rosto
Saboreiam doçuras de teu sabor,
Prazer doce sem Amor,

Renascer De teu Sol-Posto,
No horizonte de tua Dor!

Lagar onde teu Mosto fermenta,
Teu emerso corpo do generoso vinho,

É néctar frutado tratado com carinho,
Nas mãos que tua vontade experimenta,
Provando da tentadora tentação que tenta,
Embriagada vontade de petulante anjinho!

Edulcorados lagares de prazer,
Por fermentoso desejo de uva divina,
Brancura doce de poderosa sacarina,
Preparando seu corpo para cada sorver,
Sorvendo quem sorve um servido refazer,
Embriagando o tino de quem desatina,
Nas mágoas esmagadas deixadas escorrer,
Fracasso jurado de quem jurou proteger!

Sobre teu irresistível lagar,
Pairam agora colibris e abelhas de mel,

Escanções delicados dando a provar,
Milagrosa transformação de valioso fel,

Tinta amarga de assinado papel,
Implorante rosto de triste olhar,
Lágrimas prensadas sem vacilar!

No Horizonte de tua dor,
Renascendo de teu Sol-Posto,

Prazer doce sem Amor,
Saboreiam doçuras de teu sabor,

No
Mosto

De
Teu
Rosto!

domingo, 20 de setembro de 2009

Diferentes Vindimas Iguais


Trovões suaves se formavam na mente,
Pela estranheza de quem não os esperava,
Riam desconfiados de quem desconfiava,
Perdendo o olhar que bailava facilmente,
Olhar encontrado que pousava mansamente,
No sorriso da graça que o sorriso provocava!

Ilhas atrevidas de mentes solitárias,
Rodeadas por mil cuidados de garantida liberdade,,
Voaram sobre a vontade das atenções desnecessárias,
Tocando suavemente os vinhedos de lendas várias,
Gravados em cada videira o anonimato da identidade,
Em anónimas diferenças de igual particularidade,
Contrariando o juízo de iguais suposições contrárias,
Supondo agrestes encostas em Douro de tempestade,
Suposta surpresa confirmada na sensível possibilidade,
Da pobreza insensível de afectações sumárias!

Tesouras de luz cortando a iluminada diferença,
Na luz da luz que ilumina o resplandecente caminho,
Não deixando passar em claro solitário cacho de uvas sozinho,
Compreensão indiferente de quem aguarda a contínua sentença,
Na absolvição de um parto sem pecado absolvido à nascença,
Invisíveis parras cobrindo o perfeito rosto mesquinho!

Ilusores passos descontrolados em ameaça de queda eminente,
Ilocáveis Almas preenchendo lacunas entre bardos de videiras,
Entrelinhas misteriosas onde outras uvas curam cegueiras,
Silêncios surdos de gritos mudos no olhar de quem sente,
A condigna superior igualdade de igual mérito diferente,
Condutíveis pessoas em ordenadas fileiras,
Aguardando sua vez sem invejosas rasteiras,
Admirável humildade sorridente!

Doces uvas de doce vindima,
Colheita doce de doce estima,
Amigos diferentes em seu trajecto solitário,
São prova de igualdade e seu contrário,
Lição de vida que a videira da vida anima,
Cachos dourados pelo quente Sol que ilumina,
Bagos devotos nas contas de um rosário,
Corações rebeldes em vinhateiro sacrário,
Qualidade vindimável que pelo coração prima!

Triláteros de tempo cada um em seu compasso,
Três dias diferentes cada um com sua face,
Forças renovadas na gradação do cansaço,
Mais um dia do primeiro que renasce,
A mesma Luz do mesmo mágico passe,
Reintegração possível em tempo tão escasso!

Vindima da memória que não foi vindimada,
Ainda que colhida por pessoas tão Admiráveis,
Será sempre vindima de consciências amáveis,
Em cada cepa de videira gravada!


Sendo tão iguais na virtude quanto no defeito,
Fez-se uma vindima diferente cortando tudo a eito!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Barquito Rabelo


Derivando na deriva da vaidade dos verdes bardos,
Flutuava um pequeno e mágico Barquito Rabelo,
Acariciando parras que protegiam o cacho perfeito,
Estimulando movimento na leve brisa de um apelo,
Retribuindo com brisa maior de um acordo satisfeito,
Impelindo assim o Barquito nos socalcos de um leito,
Emergido da montanha num monte que jurou protegê-lo,
Resistiu ás intempéries que fustigavam o desejo de vê-lo,
Transportar pequenos cascos de mágico vinho insuspeito!

Derivando na deriva de admiráveis castas orgulhosas,
Sobre nobres castas de qualidades frondosas,
Navega feliz o rebelde Rabelito de si seu dono,
Com a coragem de quem nada teme,
Não dormindo no desleixo de folgado sono,
Enche de vento a vela de suas descendências aventurosas,
Rabelo lírico decidido em ser seu próprio dono do leme,
Transporta paixão por suas uvas o barquito que freme,
Ancorando à tardinha na visão de curvas sinuosas,
Por onde deslizam gigantescas velas misteriosas,
Anunciando pagamento sedutor de amargo abono,
Ameaçando levar o fruto de paixões deliciosas,
Paixões de outras paixões deixadas ao abandono!

Derivando na deriva da paixão de Portuguesa Touriga,
Entre o corte à tesourada de suas paixões separadas,
E frios lagares onde suas protegidas serão esmagadas,
Encalha o Barquito Rabelo apartado que a tristeza abriga,
Sem saber que é fado mágico de paixão antiga,
Arrebatamento de paixões por paixões apaixonadas,
Paixão de Deuses para irresistíveis paixões fadadas,
A mesma paixão pelo pequeno Rabelo incompreendida!

Caiu-se de si o Barquito Rabelo sobre pedras de xisto,
Deixou-se derivar na deriva das espadelas sem vontade,
Murchou sua vela num enrodilhado imprevisto,
Abandonando-se num olhar profundo nunca visto,
Deixou que a prata do Douro reflectisse a profundidade,
De um fim de tarde em resignada passividade,
Descurado chão inseguro de elevado risco,
Seca corrente forte no Douro da maturidade!

Acordou com a luz de prata em seu peito de fundo chato,
Sensação de estranha sede da sede que nunca tivera,
Mas que saboreou num admirável sorver imediato,
Confundindo lágrimas escorridas em pequeno regato,
Com acolhedoras boas-vindas que o Douro lhe dera,
Rio de seu leito pelo Rabelito rebelde à espera,
Praxe generosa no generoso vinho de mais uma Era!

Derivando agora na deriva do Rio que entre colinas ri,
Navega nervoso o pequeno Rabelo atarantado,
Descobrindo a corrente na qual navega enviesado,
Esquecendo-se da espadela em remo do leme de si,
Mas sua quadrada vela se arredonda e sorri,
Bem segura pelo mastro em suor da vinha trabalhado!

Lá se ajeitou o barquito,
Seguindo a corrente dos grandes Barcos imponentes,
Transporta agora a melhor uva, um único baguito,
Acenam-lhe alegrias lá nos montes as videiras contentes,
Recordando aquele Rabelo pequenito,
Que flutuava num imaginário infinito,
Imaginação sem fim de grainhas-sementes,
Gerando histórias que germinam no calo dos crentes!

O Barquito Rabelo derivando agora no mosto da deriva,
Navega nos lagares de onde saem grandes prazeres da vida!




segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Defeito da Virtude


Este calor que abafa o discernimento,
É anaeróbio defeito de Agosto,
Entre asfixiante virtude entreposto,

Fugindo ao ensinamento,
Do inalcançável entendimento,
Arquitectado na estrutura do perfeito rosto,

De um intencional arrefecimento!

A virtude é um cubo em arestas de gelo,
Ausente das paredes que o sustentam,

Com ângulos de perspectivas sem apelo,
É ângulo flexível de quebrado cotovelo,

Dor insuportável que soporíferos aguentam,
Fazendo de conta nas contas que inventam,
pertinaz empenho cego de obscuro zelo!

Pobres poetas e outros miseráveis,
Caminham em abraços no prazer da conivência,

Comungam de pão divino que se bifurca,
Afogam-se em sangue de vinhos lastimáveis,
Afagando rostos imaginados de irresistível aparência,
Acordos tácitos de egoísta convergência,

Subtileza manhosa que o incauto deturpa,
Deturpando virtude de defeitos louváveis,
Com o efeito do defeito em virtudes reprováveis,
Que a violência do verbo usurpa,
Visando o fim que o princípio conspurca,

O mesmo princípio de repetida persistência,
Repetindo anáforas de final contingência!

Mas este foi o Mês de Agosto,
O Mês de poucas virtudes... e muitos defeitos,

A denúncia de surpresos conceitos,
A confissão atroz de desconhecido rosto,

Tristeza feliz de alegre desgosto,
O fim inacabado dos Krystais perfeitos!

Agosto, será sempre o Mês de Krystal,
Será DiVerso sem preconceitos,
Será o defeito da virtude natural!...

Apenas o defeito revelado de Agosto,
Na virtude de um Poema... sem rosto?!...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Antes Prevenido...



Do Filme*"The Boat That Rock"*Richard Curtis (2009)

domingo, 23 de agosto de 2009

O Hipócrita


Tudo na Vida,
Tem uma medida,
Pode ser grande, estreita ou até sem saída,
Pode ser ínfima Hipocrisia de Hipocrisia incompreendida!...
Tudo na Vida tem um peso,
Carga leve sobre teu insuportável poder indefeso,
Derrota esmagadora da qual sais ileso!...

A vida é uma razão fodida,
O fingimento ao qual te sentes preso!

Anjo sombrio, esse estupor,
Tinha uma admirável balança,
Não como a da Justiça em sua justa herança,

Num prato punha o Amor,
No outro a falsa esperança!...

Cravos entre coágulos oxidados,
Crescem no sofrimento do estigma,

Para o espírito pobre será sempre um enigma,
Para os hipócritas ricamente compensados,
Serão martelos cravando o paradigma,

Nos valores humanos crucificados,
Tão fartos de amargos cravos glorificados,

Sustentados por falsa cruz fidedigna!

Quem quer sentir uma chaga de Cristo crucificado?...

Bem no âmago do Amor desperdiçado,
Não desse Amor que arde no oportunismo viciado,

Daqueles que semeiam a ilusão,
Entre o raciocínio animal sem razão,

E o sexo premeditado,
Na promessa conjurada de triste condição!

Quem quer um Estigma de Cristo?...
Eu sou vossa sexta Chaga na qual resisto,
Restam as cinco da Crucificação:
Tórax, Punhos e Pés do Justo condenado,
Julgado pela Hipocrisia do Hipócrita revelado,
Na certeza de adivinhada confirmação!...
Ainda querem uma cruel Chaga do inocente castigado?!...
Ergam os olhos bem para dentro de vossa consciência,
E tenham a humildade de aceitar sua beneplácita clemência!

Anjo sombrio, esse estupor,
Tinha uma admirável balança,
Não como a da Justiça em sua justa herança,
Num prato punha o Amor,
No outro a falsa esperança!...
*
És esperança de teu próprio fruto imortal,
Esperança perdida de tua inacabada árvore genética,
Flor de laranjeira em virgem declaração Poética,

Coroa de pureza elaborada em teu ritual,
Vida coagulada escorrendo do Santo Graal,

Copiando formas de querer estético,
Ilusória imagem de teu sangue virginal!
*
Hipócrita, esse grande estupor,
Grava hipócritas métricas de desmedido sal,

Em lágrimas salgadas de fingido Amor!
*

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Quem-me-Deras


Encontrei uma Quem-me-Dera debaixo da Esperança,
Quem me dera o que dela por mim se perdeu,
E quem por ela se perderia fora eu;
Sou Quem-me-Dera da Quem-me-Dera que não alcança,

Dera por ela em Quem-me-Deras de despeitada vingança,
Por Quem-me-Deras que nas Quem-me-Deras se desvaneceu!

Foram semeadas Quem-me-Deras entristecidas,
Em jardins de Quem-me-Deras sem cor,
Falam em Quem-me-Deras de amor,
Quem-me-Deras por todos apetecidas,
Arranjos desflorados de Quem-me-Deras Floridas,

Floristas tristes em Quem-me-Deras de dor!

Pudera eu dar alento a quem-me-dera,
Não me dando a quem eu não quisera,

Querer de mim quem de ti soubera,
Quem de ti, por mim, sempre soubera amar,
Soubera eu partes que de mim dar,
Dando múltiplos do que não me deste,
Quem-me-Deras de tua indiferença agreste,

Asfixia transbordante de comprimido ar,
Oxigénio vivo que de alguém fizeste,
Respirando Quem-me-Deras do que disseste,
Quem-me-Deras confessadas de teu pensar!

Quem-me-Deras,
São como quimeras,
Quimeras de Quem-me-Deras,
Primitiva cobiça prenhe de ilusões,
Gestação traída por prometidas esperas,
Quem-me-Deras de traídas traições!


Esquecem as Quem-me-Deras de regar o Amor,
Com Amor de Quem-me-Deras arrependidas,

Quem-me-Deras cobiçadas por qualquer estupor,
Sem Quem-me-Deras no jardim de suas vidas!


Ainda que sejas quem Quem-me-Deras não tem,
Terás uma Quem-me-Dera cobiçada por alguém!...


*

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Elo dos Oráculos

Esvoaçavam esbeltas as mariposas em sua beleza,
Descansando transparentes asas que o vento embalava,
Adormecendo-as na anestesia serena do sossego,
Quando em chumbo transformadas pesaram a tristeza,
Caindo em si num voo picado que o chumbo denunciava,
Desfragmentando mil coragens num único medo,
Dando asas a negras asas de negro degredo,
Penumbrando a luz do eclipse que iluminava,
O jardim celeste agora de certeza apagada,
Onde quatro folhas caíram de um obscuro trevo,
Sobre palavras desmaiadas no sortilégio de um enredo!
*Adivinham-se mosquitos por cordas,
Comem-se gatos pardos por cio de lebres extintas,
Lêem-te mentiras para que por ti não mintas,
Reiteras a disciplina errante de engajadas hordas,
És o número redondo que em ti, de ti não recordas,
Cilha da albarda elaborada de tua premiada precinta!
*
Regressaram oráculos menores,
Ratos pelados em película aderente,
Não desses ratos de igual peçonha diferente,
Ratos e ratazanas de inspirações maiores,
Senhores das predições e outros folclores,
Rédea solta sem freio inteligente!
*
Quebram-se elos seguros de mau olhado,
Os mesmos elos onde os sonhos preguiçavam,
Reforçando a preguiça de um sono reforçado,
Sonolento despertar para olhar desconfiado,
Por olhos desviados dos olhos que amavam,
Amores fugidios que a eles se entregavam,
Falsa paixão ilusória de um engano envergonhado,
Escolhida no acaso das coincidências que aguardavam!
*
Sentados em dunas de nostalgia,
Entre mãos cúmplices que não se tocam,
Observam quarto minguante que na lágrima flutua,
Olhar silencioso de melancólica eupatia,
Descrentes na noite sem a luz mágica da lua,
Cores perdidas no arco-íris da utopia!
*
Regressaram mais santificados oráculos,
Predizendo fúnebres traições do passado,
Multiplicam-se ventosas de viscosos tentáculos,
Na clareza óbvia do óbvio gizado,
Letras engenhosas de fino traçado,
Palavras melodiosas de admiráveis cavernáculos!
*
Solda-se a frio o elo quebrado,
No chumbo que abateu a extinta lebre,
O mesmo chumbo derretido noutros obstáculos!
*
Afinal comandam os mosquitos,
Confundidas cordas de articulados homenzitos!

domingo, 26 de julho de 2009

Da Orgia ao Avesso


Veio um eunuco, um pederasta e um proxeneta,
Um galopim que abrindo caminho badalava uma sineta,
Todos eles tendo na testa bordados de emulação,
Esvoaçavam na leveza de uma leve borboleta,
Prometendo prazer em caudais de dulcidão,
Tentador remédio santo para males do coração,

Carne mal passada em vez da habitual punheta!

Enquanto o castrado guardava o harém,
O proxeneta conferia doze putas mal contadas,

Deitando contas à vida de contas mal paradas,
Aguardava um cu impaciente sua vez também,
Ficando das esfomeadas escolhas muito aquém,
Vaginas de outras vaginas por elas enrabichadas!

Lá continuava o garoto badalando o chocalho,
Com um olho vesgo na puta e outro em seu vergalho,

As esposas do rei eram tentações das arábias,
Sempre guardadas eram cartas fora do baralho,
Trunfos maiores de arriscadas sequências sábias;
Mas... porque não jogar uma cartada?!...
O eunuco algum prazer há-de ter,
Sem seu badalo mulheres não podia comer,
Arriscando o jovem uma nova jogada,

Seduziu o guardião da tentadora mulherada,
Prometendo por ele algo fazer,
Mas...

O sodomita trejeitando doméstica enciumada,
Numa abordagem capciosa,
Intrometeu sua sodomizante língua gulosa,
Propondo uma sensual orgia combinada,
Sem vaginal concubina ou meretriz horrorosa!

Já doze línguas trabalhavam os clitóris do harém,
Sentindo línguas do deserto em seus clitóris também,
Quando o chulo desconfiando do número que viu,

Castigou a primeira fêmea em pleno orgasmo,
Que entrelaçada naquele entusiasmo,
Nem a pancada sentiu,
E vindo-se violentamente num longo espasmo,

De outros espasmos de prazer não desistiu,
Humilhando, assim, o reles homenzinho,

Que, cego pelo ódio de seu interesse mesquinho,
Em vez de uma das suas putas sem lei,
Agredira a mais bela das mulheres do Rei!...

Com cinco dedos bem fustigados na face delicada,
E um olho negro por conta da agressão,
Perdeu o proxeneta o tesão,
Ganhando uma certeza adivinhada,
De arrepiar machões de vida obstinada,
Capões inatos de falhada circuncisão,

Falo cortado pela cimitarra de um eunuco capão,
Castigada vida por reles vida castigada!

Entretanto, o corpulento e castrado guardião,
Confundido por um insuspeito plano inocente,
Deliciava-se com o garoto atrevido,
Que lhe sussurrava papilas húmidas no ouvido,

Estava ansioso pelo seu paradisíaco presente,
Irresistíveis mulheres ardendo em sangue quente,

Prontas para foderem um galopim perdido!...
E tudo corria bem;
O Eunuco em suspiros vibrava,
O garotelho em putas e outras mulheres pensava,
E, não havendo mais homens também,
Avançaram as putas livres daquele que as aprisionava,
Para satisfazerem seus desejos de mulher libertada,

Enquanto espreitava da sombra o harém,
Tremendo de desejo, embora com medo, porém,
Já que seu guarda ainda as guardava!...

O garoto já não tocava sineta,
Com 12 putas que se ofereciam,
Substituindo a sensaborona punheta,
O bacanal era um outro planeta,
Onde todos os sentidos se perdiam,

Pela passagem em chamas de um cometa,
Que incendiaria a alma de um inexistente poeta!

Escreveu a testemunha sobre este triângulo ordinário,

Descrevendo em acta o sentimento perdulário,
De um Eunuco que virou proxeneta meigo,
Um proxeneta que deu em guardião solidário,
Doze putas sem lei,
Transformaram-se no harém do rei,
E rainhas que mudaram seu vocabulário;
Quanto ao jovem leigo,
Esse aprendiz de fraco peido,
É príncipe da criadagem grei,
Literatelho de fraco povo literário!

Há quem não sendo, seja o que é,
Sendo que não é o que quer ser,
Parecendo não ser São Tomé,
Ainda que não vendo, o crer!

sábado, 18 de julho de 2009

Natural Ocaso


Secos Cardos e viçosas Urtigas,
Cansaço do corpo e mentais fadigas,

Genitais tristes sob verdejantes parras,
Agastadas formas cruéis de vulvas bizarras,
Virgens perdidas em doces labirintos de intrigas,

Jardins de flores murchas em estéreis jarras,
Felinos de porcelana despojados de suas garras,

Afiadas línguas desafiadas por facas nas ligas!

Suores na noite que não adormece,
Calor infernal que o coração não aquece,
Hormonas traidoras carregando pés-de-cabra,
Sanidade roubada com indiferença de ladra,
Pesadelo insone que não se compadece,
Em rezas pagãs ao sacro Anjo da Guarda!

Berços tenros de Urtigas viçosas,
Afrodisíaco leito instável de viril ardor,
Incontrolável apetite de vaginas orgulhosas,

Abertas coxas convidativas de fêmeas fogosas,
Gritam desesperadas o prazer da dor:
-Penetrem-me vosso seco fogo,
neste húmido fogo,
por favor!


Camas velhas dos Cardos que secaram,
Secando em sacrifícios de nutação,
Magnetismo seco de seca maldição,
Verdugos secos que o corpo castigaram,
Sequiosos úteros que Amor não geraram,

Ressequidos pénis de moribundo tesão!

Cardos

UrtigasCada um em seu deserto,
Trocam seus olhares que definham,
No ocaso da vida com a vida aqui tão perto!

sábado, 11 de julho de 2009

Veredas da Solidão


Meu frémito de teu não indiferente,
Ruiu esperanças pela tua recusa,
Aludindo o poder de ténue e fingida musa,
Não disfarça bonomia complacente,

Para com minha incauta traição indecente,
Que a teu pedido de ti abusa!

Acolhes todos os lastimosos madrigais,
Lástimas flutuantes onde tu és âncora servil,
Jogada à sorte de nefastos e rasos cais,
Servidão resignada nos ancoradouros habituais,

Hábito contagiado por envergonhado argumento vil,
Cismas que cismam nos floreados de um ardil,
Palavras que se afogam em saliva de mil jograis!

Tropeçam histriões em beijos de doce fel,
Curvam-se ignaros à luz de apagadas luminárias,

Lamparinas que iluminam provas de amargo mel,
Poemas fingidos de falso menestrel,
Sombras que escondem escorraçados párias,
Sendo de si sombras em sombras várias,
Feras indomáveis em obnóxios tigres de papel!

Semântica das virgindades que se repetem,
Idiolatria dos mofinos sem adoração,
Perdidos hímans rompidos que se intrometem,
Esperando que milagrosos hífens os completem,

Entre a esperança do pecado e a contrição,
Seduzindo corações de Deus em sua confissão!

Aguarda o silêncio do outro lado impassível,
Fechado na idiólatra prisão que do avesso te virou,

Palavras convenientes são tudo que restou,
Oferecendo cada visita indiferente dor insensível,
Em certezas de Liberdade certa falível,

Ainda que voem com as asas de quem voou,
Sentirá no osso a dor daquele que tombou!

Pelas veredas onde com a solidão caminhas,

Esse caminho mais curto que alguém te mostrou,
É percurso sem saída que tu não adivinhas!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sereias de Areia


Naveguei mares de fome rasgando celestes firmamentos,
Bolinei triângulos de velas enganando traiçoeiros ventos,
Fui açoitado nos promontórios dos corpos que percorri,
Sonhando fêmeas em cada costa que por elas submergi,
Possuí a histeria das bruxas em penetrativos tormentos,

Nadei de vértebra em vértebra saboreando costas de ti,
Acabando clandestino castigado por tão febris intentos,
Onde lambi o convés de teus naufragados sentimentos,
Saboreando grilhetas de sal que do teu tesouro senti!

Encontrei-me parado no tempo de finas areias,
Gravei seu nome gasto em cada anónimo grão,
Juntei búzios mágicos em hipérboles de minhas ideias,
Fitei meu mar encantado por minhas supostas sereias,
Esperando por elas em sereias de minha inspiração;
Pensava estar seguro nos braços seguros de Zeus,
Esperança à deriva em espumas de imensidão,
Ressaca repousada em carinhos de abraços meus,
Castelos de areia em discípulas metáforas de Deus,
Ode minha cantada pela faina sagrada de seu coração!

Desbravei virgindades em bateis solitários,
Arcas douradas prênhas de negros dobrões,

Ensaiei abordagens com a carta dos corsários,
Autorização de Reis passada aos mais fiéis ladrões,
Afundando promessas gravadas em meigos corações,
Diário de bordo escrito com sal de prazeres vários!

De tão rico tesouro real restou o broche prometido,
Enterrado na areia de teu corpo de mim escondido,
Trabalhei entre tuas pernas de mar com afinco de grumete,

Descobrindo finalmente teu tesouro, fruto do mar proibido!

Navegando minha língua guiada por teus astrolábios,
Encontrei continentes de prazer em teus desejos sábios!

domingo, 28 de junho de 2009

sábado, 27 de junho de 2009

Belo


Subjectiva é a beleza,
Coisa linda, coisa linda,
Ou até mais linda ainda,
Análise intuitiva da delicadeza,
Ainda que mais linda não possa ser,
Há algo de mais lindo pelo meio,
Uma flor em oferta difícil de conter,
Mais linda do que possa parecer,
Jardim de magia cheio!

Gordos, muito gordos e amorosos,
Magros, muito magros e garbosos,
Pobres sem pobreza de olhos vindos,
Ricos e pobres todos lindos,
Belos ricos, muito belos e charmosos,
Pobres belos, muito belos e formosos,
Todos eles são bem vindos,
Dançam juntos felizes e curiosos!

Beleza sem condição é belo combustível,
Da máquina solidária em andamento,
Sobre a alegria do sentimento,
Sentindo toda a alegria possível,
Beleza em reinvenção apetecível,
Florescendo no pensamento!

Belo, belo, é ser-se lindo,
Gostar de o ser,
Admirar seu sorriso, rindo,
Ser-se belo e o merecer!

Pele de pele, bem lavada,
Cada um em sua pele bem vestida,
Indumentária humana consagrada,
Ostentação pela felicidade alimentada,
Partilha alegre, da alegria prometida,
Promessa linda de riqueza amiga,
Riso de prazer para o pobre,
Igual riso para o nobre
,
Verdadeira riqueza consentida,
Verdade bela pela vida exibida!

Subjectiva é a beleza,
A igualdade é um rosto perfeito,
Corações perfeitos em sua leveza,
Força da natureza a bater no peito,
Batendo docemente em macio leito
,
Leito de tão nobre riqueza,
Mantendo aquela chama acesa,
Para que pela bondade tudo seja feito!

Mas belo, belo, é mesmo o belo,
Tão belo que belo não se vê,
Ao não ver-se belo de tão belo,
Dizem que é belo sem saber porquê;
Talvez até nem seja tão belo assim,
Ou até um pouco mais,
O mais belo dos animais,
O mais belo odor do jasmim,
Flores belas no mais belo jardim!

A beleza é subjectiva,
Para a verdade é muito bela,
Na verdade é beleza à janela,
Sorriso aberto de beleza atractiva;
Beleza da pele admirável que cativa,
Derme que não esconde poética veia,
Verdadeira beleza de imaginação cheia!

O belo, por mais belo que o seja,
Pode ser belo aos olhos de quem o deseja,
Para os olhos dos olhos é o que parece,
Os olhos de quem almeja,
Olhos de Alma que a Alma oferece!

Belo, belo, é ser-se lindo,
E gostar de o ser,
Admirar seu sorriso, rindo,
Ser-se belo e o merecer!


Belos, belos, são pessoas com coração,
Rejuvenescendo no rosto belo de sua razão!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Feio

A beleza é subjectiva,
Coisa feia, coisa linda,
Ou até mais feia ainda,
Superficial análise intuitiva,
Ainda que mais feia não possa ser,
Há sempre algo mais feio,

Um borjêço pelo meio,
Torpeza imunda difícil de conter,
Mais feio ainda do que possa parecer,

Odre seboso de peçonha cheio!

Gordos, muito gordos e formosos,
Magros, muito magros e famosos,
Pobres, muito pobres de olhos findos,
Ricos, muito ricos e todos lindos,
Belos ricos, muito belos e charmosos,
Feios pobres, muito feios e piolhosos,

Todos eles são bem vindos,
Espreitam os pobres à porta curiosos!

Pobreza é feio combustível,
Da máquina solidária em andamento,
Sobre os despojos do consentimento,
Consentindo a fealdade possível,
Beleza em decomposição apetecível,
Apodrecendo no pensamento!

Feio, feio, é ser-se feio,
E gostar de o ser,
Repugnante sem receio,
Ser-se tão feio e o merecer!


Pele de seda, bem tratada,
Fina seda bem vestida,
Indumentária de marca apropriada,
Ostentação pela miséria alimentada,

Para o anúncio da esmola prometida,
Promessa linda da riqueza amiga,
Vintém de escárnio para o pobre,

Cheque do tesouro para o nobre,
Pobreza de sua dignidade coibida,
Verdade Feia do pobre escondida!

Subjectiva é a beleza
A indigência é um rosto perfeito,

Perfeita é a pobreza,
Mina de ouro para o Direito,
Justiça deleitada em macio leito,
Leito de oportunista fraqueza,
Mostrengo de egoísta avareza,
Instituição de caridade posta a jeito,

Para o rico toda a riqueza
Para o indigente nada feito!

Mas feio, feio, é mesmo o feio,
Tão feio que feio se vê,
Ao ver-se feio de tão feio,
Sabe que é feio sem saber porquê;
Talvez até nem seja tão feio assim,
Ou até um pouco mais,
O mais feio dos animais,
De todos eles o mais ruim,
Descaro de ruindade feia sem fim,
Veneno à mesa de ricos comensais!

A Beleza é subjectiva,
Para a mentira pode ser muito feia,
Para a verdade feia e meia,

Para ambas uma feia atractiva;
Beleza da pele admirável que cativa,
Derme que esconde varicosa veia,
Falsa beleza de podridão cheia!

Feio, por mais feio que o seja,
Pode ser lindo aos olhos de quem o deseja,

Para os olhos dos olhos é o que parece,
Mesmo que pareçam olhos de inveja,
São olhos da Alma dos quais padece!

Feio, feio, é ser-se feio,
E gostar de o ser,
Repugnante sem receio,
Ser-se tão feio e o merecer!


Feios, feios, são pessoas sem coração,
Pessoas a apodrecer na cara feia de sua razão!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

A Pedrinha

Aquela Pedrinha,
Ali sempre quietinha,
Nunca se queixava;

Batia-lhe, batia-lhe,
E não pestanejava,

Doía-lhe, doía-lhe,
E ali ficava!
*
No regresso de cada tainada,
Presságio e arrepio do que não pedira,
O monstro desaustinado bêbado de ira,

Corria a Pedrinha à pedrada,
E por cada uma que lhe calhava,
Entumecia pelo ciume que o impelira!
*
Depois, com o remorso vinha a covardia,
Fugia o covarde para bem longe da Pedrinha,

Esquecia a justiça que na pedra merecia,
Mas não a pequena pedra mansinha!
*
Num dia cinzento a Pedrinha quis fugir,
Mas não tendo amigos para onde ir,
Ali ficou!...

À espera de quem a castigou,
À espera de mais um castigo;
Sabendo o que estava para vir,
Esperou por seu dono inimigo,
Que lhe bateu até quase a partir,
Mas a Pedrinha não se queixou,
E ali ficou!...

*
Num Inverno em que sol não havia,
Sentiu que tudo mudava;
A Pedrinha que antes sofria,

E pelo castigo aguardava,
Agora já não aguentava,
Veio mais um que a possuía,
Mais um que o sofrimento não via,
Se um a magoava,
O outro lhe batia!
*

Apostavam ambos a Pedrinha,
Naquele cruel jogo da vida,
Todos desejavam sua beleza de rainha,

Beleza dela mesma escondida;
Ora a perdiam,
Ora a ganhavam,
Ora a agrediam,
Ora a beijavam;
Se uns a maltratavam,
Todos dela riam,

Outros porrada lhe davam!
*
No fim de um Inverno,
A Pedrinha desapareceu,

Uns dizem que morreu;
Para a Pedrinha de olhar terno,
Acabara uma vida de Inferno!

Ninguém sabe o que aconteceu,
Àquela Pedrinha que nunca viveu!