quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Barquito Rabelo


Derivando na deriva da vaidade dos verdes bardos,
Flutuava um pequeno e mágico Barquito Rabelo,
Acariciando parras que protegiam o cacho perfeito,
Estimulando movimento na leve brisa de um apelo,
Retribuindo com brisa maior de um acordo satisfeito,
Impelindo assim o Barquito nos socalcos de um leito,
Emergido da montanha num monte que jurou protegê-lo,
Resistiu ás intempéries que fustigavam o desejo de vê-lo,
Transportar pequenos cascos de mágico vinho insuspeito!

Derivando na deriva de admiráveis castas orgulhosas,
Sobre nobres castas de qualidades frondosas,
Navega feliz o rebelde Rabelito de si seu dono,
Com a coragem de quem nada teme,
Não dormindo no desleixo de folgado sono,
Enche de vento a vela de suas descendências aventurosas,
Rabelo lírico decidido em ser seu próprio dono do leme,
Transporta paixão por suas uvas o barquito que freme,
Ancorando à tardinha na visão de curvas sinuosas,
Por onde deslizam gigantescas velas misteriosas,
Anunciando pagamento sedutor de amargo abono,
Ameaçando levar o fruto de paixões deliciosas,
Paixões de outras paixões deixadas ao abandono!

Derivando na deriva da paixão de Portuguesa Touriga,
Entre o corte à tesourada de suas paixões separadas,
E frios lagares onde suas protegidas serão esmagadas,
Encalha o Barquito Rabelo apartado que a tristeza abriga,
Sem saber que é fado mágico de paixão antiga,
Arrebatamento de paixões por paixões apaixonadas,
Paixão de Deuses para irresistíveis paixões fadadas,
A mesma paixão pelo pequeno Rabelo incompreendida!

Caiu-se de si o Barquito Rabelo sobre pedras de xisto,
Deixou-se derivar na deriva das espadelas sem vontade,
Murchou sua vela num enrodilhado imprevisto,
Abandonando-se num olhar profundo nunca visto,
Deixou que a prata do Douro reflectisse a profundidade,
De um fim de tarde em resignada passividade,
Descurado chão inseguro de elevado risco,
Seca corrente forte no Douro da maturidade!

Acordou com a luz de prata em seu peito de fundo chato,
Sensação de estranha sede da sede que nunca tivera,
Mas que saboreou num admirável sorver imediato,
Confundindo lágrimas escorridas em pequeno regato,
Com acolhedoras boas-vindas que o Douro lhe dera,
Rio de seu leito pelo Rabelito rebelde à espera,
Praxe generosa no generoso vinho de mais uma Era!

Derivando agora na deriva do Rio que entre colinas ri,
Navega nervoso o pequeno Rabelo atarantado,
Descobrindo a corrente na qual navega enviesado,
Esquecendo-se da espadela em remo do leme de si,
Mas sua quadrada vela se arredonda e sorri,
Bem segura pelo mastro em suor da vinha trabalhado!

Lá se ajeitou o barquito,
Seguindo a corrente dos grandes Barcos imponentes,
Transporta agora a melhor uva, um único baguito,
Acenam-lhe alegrias lá nos montes as videiras contentes,
Recordando aquele Rabelo pequenito,
Que flutuava num imaginário infinito,
Imaginação sem fim de grainhas-sementes,
Gerando histórias que germinam no calo dos crentes!

O Barquito Rabelo derivando agora no mosto da deriva,
Navega nos lagares de onde saem grandes prazeres da vida!




12 comentários:

Anónimo disse...

Krystal,

o homem, a natureza, razões e emoções
e sonhos... nada disso
teria sentido algum,
sem a vontade.

Vontade de barquito em realizar
seu amor e seu querer,
de ser real, de deixar vazar em sensações
e perderes de navegar em mar aberto,
e à margem de um porto
que o ampare e o proteja.
De tempestades, de marés altas,
ou de simples
sentimentos...

E que venham, então,
seus melhores vinhos!
esmagados pela esperança de dias
melhores,
vinhos de esperança!

Andresa Ap. Varize de Araujo disse...

Sempre vale a pena voltar.....
E farei para merecer de novo sua visita....

Apreciei muito seu blog, e tenho certeza que por aqui vou voltar.

Até breve
Andresa Araujo

Teresa Alves disse...

Krystal,


Há quem, não conhecendo um grande amor, não sinta falta dele.
Aprende a se satisfazer com qualquer que seja, porque de melhor,
é o que tem, é o que acredita ter.

Passa a vida a se satisfazer com pequenos amores, idealismos e sonhos não realizados.

Acha que o bom é ótimo, por falta de perspectiva de vida,
de visão, ou de estímulo dirigido.

Não por culpa, mas por desconhecimento de que pode existir um amor maior.
Acomoda-se.

Há aqueles que não se contentam,
entretanto, e desafiam.
Desafiando se arriscam, ousam.
Na ousadia,
amam e exigem do amor sua melhor cor,
uma cor não visível a muitos.

Aprendem a sorrir com a alma e
a desejar com o coração.

E ainda que, seja necessário ceder espaço à ausência, ou solidão, ou dor,
sabem, que ao amor maior,
os pequenos grandes momentos
se eternizam na esperança
do basta.


E tal qual como o Barquito Rabelo,
desses há de sair seus melhores vinhos,
ainda que não haja uvas.

Nilson Barcelli disse...

Caro amigo, conseguiu transportar-me para o Douro e para a sua envolvência, do rio até aos cumes, passando pelos vinhedos e por uma série de aspectos belíssimos de uma região cujo potencial ainda está longe de ser apreciado e usufruído pela maioria dos portugueses.
Excelente poema, gostei imenso.
Abraço.

Carla disse...

linda esta viagem de rabelo pelo Douro
voltei e deixo um beijo e desejo de um bom fim de semana

susana disse...

Olá,é um prazer recebe-lo no meu cantinho, obrigada.
O seu poste está muito bom, alias assim como todos os outros que aqui coloca, e as fotos :)) muito lindas.
Que viagem fez o barquito ah!!!

Beijo de um anjo
Susana

Andresa Ap. Varize de Araujo disse...

Hoje meu blog esta feliz e em grande festa .
Sabe porque?

Voce voltou!!!!!!

Lindo comentario que me emocionou, tem em seus dedos a sensibilidade do sentimento.

Um grande abraço

e um otimo final de semana

Bjs
Andresa

f@ disse...

A tudo o que sabe a emoção…
e os sentidos chorão no sorriso da luz...
... nos socalcos…
e, o rio corre embriagado de crist ais da uva…
sede de vida…

!menso beijinho

Anónimo disse...

Krystal,

às vezes,
mesmo sob a proteção segura
de uma encosta,
somos capazes de reconhecer que nossa bagagem está
repleta de produtos
cuja validade já se expirou
há algum tempo...

Não duvidamos da felicidade,
assim nos seguramos, nos ancoramos
e nos satisfazemos.

É sempre mais fácil gostar do
que conhecemos e sabemos,
àquilo que
somente nossa
imaginação atinge.

É preciso coragem,
força de vontade e um tanto
de maturidade...
Assim,
tal qual Barquito,
tal qual pessoa e sentimento.



Bom domingo!

uminuto disse...

a vaidade está na beleza das coisas simples

Daniel Savio disse...

Na verdade, penso que seja uma parte do poema posterior...

Se bobear, é até a foto vinheto pela manhã...

Fique com Deus, menino KrystaDiVerso.
Um abraço.

Teresa Alves disse...

DiVerso Poeta,


Cada vez que releio o Barquito me convenço do quanto somos miseráveis em nos contentarmos com tão pouco, quando podemos ter muito, ou pelo menos, tentar e se esforçar por fazer a merecer o melhor, seja do outro ou de nós mesmos, ou ainda do mundo em que vivemos, na construção de uma verdadeira democracia.

O poema é, além de lição de vida, como todos os outros, um alerta aos sentimentos mais primários do ser humano.





















@Temos no Brasil uma bela tarde de verão e imensos problemas de ordem social. Mediante tanta desigualdade e tanta miséria, onde me esbarro em minha limitada condição e descubro que sou muito menos que uma gota d'água num oceano, faço pausa por aqui, descansando velha alma à sombra de seus poemas, na esperança de sair daqui fortalecido.

Bom domingo, Poeta e obrigado pela poesia.