terça-feira, 10 de novembro de 2009

Castanhas de Teu Ouriço


Desapegada no destino pelo ramo de seu senhor,
Cedo sentiu-se despida do protector seu manto,
Que delicado causou cobiçadas causas de espanto,
Ainda que vestida em matiz de castanho tentador ,
Brilhava envolta num orvalho de feliz pranto,
Liberdade grata ao abandono em antecipado alvor,
Sentiu-se a pretendida em seu pretensioso rubor,
Enfeitando a madrugada com seu Outonal encanto!

Casta castanha que do castanheiro se desprendeu,
Nascendo para ser casta igual a tantas castas iguais,
Geminada em três irmãs geminadas em outras mais,
Espinhos de viçoso ouriço que por elas sofreu,
Alcofa segura que em abraço sempre as protegeu,
Em armado seu peito de suspeitos espinhos fatais,
Jurara separar-se delas se nelas sentisse seus ais,
Abrindo-se delas pela natureza que o convenceu!

Apetite vicioso da boca ougada por ti aguada,
Exposta carne despida da mais fina pele tua,
Desejo seco pela tua bravia forma descascada,
Secando no desejo de irresistível castanha pilada,
Pilada por desejos febris no teu Sol de castanha nua,
Vai secando paciente na fornalha fria que desagua,
Como fogo chegando no vento da corrente soada,
Ecos ávidos colhendo-as entre uma carícia disfarçada,
Passam subtis movimentos pelo cu tenro da castanha,
Denunciando o ciúme que por outra castanha se amua,
Sedutor ciúme fraterno colhido do ouriço que arreganha,
No calor do brasume que seu corpo adoçado acompanha,
Prémio ou castigo em noite farrusca de castanha assada,
Onde arde de desejo a boca que por elas se assanha!

Diferente de suas irmãs vestidas com casca talhada,
Castanha morsecada por dentes que a hão-de morder,
Será cozida em delicioso desejo de a lamber;
Castanha cortada em fino corte frio de navalhada,
Assará em delicioso brando desejo de a comer!
Castanha esquecida,
Que os olhos não puderam ver,
Castanha virgem consumida,
Atirada para a fogueira abrasada,
Incha numa contida e quente gargalhada,
Que soltará rebentando numa boca atrevida!

No souto farto em solo de teu incansável coração,
Castanhas Piladas envelhecem para um prazer tardio,
Guardando-se para especiais momentos de paixão,
Admiráveis momentos selvagens de prazer vadio!

Frutos teus que conservam teu misterioso feitiço,
São tua enfeitiçada doce tentação,
Castanhas de teu Ouriço!
*

6 comentários:

Teresa Alves disse...

DiVerso,

ao versos do poema versado, cantado em rima e prosa à luz de sentimentos que nos fazem reviver nossa própria história...
DiVerso, em tua sensibilidade ao nos colocarmos frente à personagem principal do poema e permitir que nos identifiquemos em cada verso, em cada lágrima... um poema de dor, misto de sentimentos íntimos, estilo poeta... e sendo Poeta-DiVerso um poema-esperança onde, entre tons verde-esperança e marron-terra, duas cores férteis à colheita, nos conduz ao re-encontro entre o passado amargo e o futuro, que desponta ao horizonte de uma bela paleta de cores, DiVersas... em arco-íris de presente, presente de saídas e alternativas... de soluções! que sabiamente o poeta, nos revela e em cada traço... traça, em rimas, nossas vidas, nossos contos, nossos sonhos e nossos... por quê, não? Nossos desejos!






@

Pena disse...

Admirável Amigo:
Um soberbo e delicioso poema de amor.
Tem uma sensibilidade gigante. Um profundo sentir as musas de sonho, sejam quem forem.
Possui capacidades e potencialidades literárias fantásticas.
MUITO OBRIGADO pela visita de amizade extraordinária ao meu blogue.
Com respeito, estima e consideração.
Fabuloso, o que escreveu.
Bem-Haja, enorme amigo.
Escolho um abraço amigo porque os beijos são para as princesinhas de sonho.
Cordialmente e maravilhado...


pena


Notável, amigo sensacional.

Teresa Alves disse...

DiVerso em seus versos diversos, perfeita rima de sentires e dizeres... coisas nossas sentidas, coisas nossas vividas... tempo onde o Poeta se desfaz em sensibilidade e faz de nossos sentidos os mais vividos dos sentidos... extras.




Bom fim de semana!






@

Nilson Barcelli disse...

"Castanha esquecida,
Que os olhos não puderam ver,
Castanha virgem consumida,
Atirada para a fogueira abrasada,
Incha numa contida e quente gargalhada,
Que soltará rebentando numa boca atrevida!"
É impressionante a quantidade e a qualidade das imagens poéticas usadas neste poema, tal como em quase todos, ou mesmo todos, os poemas que fazes. A tua inspiração sabe a inesgotável. É rica e variada, numa verdadeira delícia/orgia para os sentidos.
Mais uma vez parabéns pelo excelente nível literário alcançado.
Abraço.

Anónimo disse...

Uma lâmina de um fino cristal que trespassa minha alma...
As vezes me sinto assim...

Beijos...

Anónimo disse...

um corte... leve pesar de alma... um sentido... vida ausente. um abraço, um amigo.