terça-feira, 23 de junho de 2009

Feio

A beleza é subjectiva,
Coisa feia, coisa linda,
Ou até mais feia ainda,
Superficial análise intuitiva,
Ainda que mais feia não possa ser,
Há sempre algo mais feio,

Um borjêço pelo meio,
Torpeza imunda difícil de conter,
Mais feio ainda do que possa parecer,

Odre seboso de peçonha cheio!

Gordos, muito gordos e formosos,
Magros, muito magros e famosos,
Pobres, muito pobres de olhos findos,
Ricos, muito ricos e todos lindos,
Belos ricos, muito belos e charmosos,
Feios pobres, muito feios e piolhosos,

Todos eles são bem vindos,
Espreitam os pobres à porta curiosos!

Pobreza é feio combustível,
Da máquina solidária em andamento,
Sobre os despojos do consentimento,
Consentindo a fealdade possível,
Beleza em decomposição apetecível,
Apodrecendo no pensamento!

Feio, feio, é ser-se feio,
E gostar de o ser,
Repugnante sem receio,
Ser-se tão feio e o merecer!


Pele de seda, bem tratada,
Fina seda bem vestida,
Indumentária de marca apropriada,
Ostentação pela miséria alimentada,

Para o anúncio da esmola prometida,
Promessa linda da riqueza amiga,
Vintém de escárnio para o pobre,

Cheque do tesouro para o nobre,
Pobreza de sua dignidade coibida,
Verdade Feia do pobre escondida!

Subjectiva é a beleza
A indigência é um rosto perfeito,

Perfeita é a pobreza,
Mina de ouro para o Direito,
Justiça deleitada em macio leito,
Leito de oportunista fraqueza,
Mostrengo de egoísta avareza,
Instituição de caridade posta a jeito,

Para o rico toda a riqueza
Para o indigente nada feito!

Mas feio, feio, é mesmo o feio,
Tão feio que feio se vê,
Ao ver-se feio de tão feio,
Sabe que é feio sem saber porquê;
Talvez até nem seja tão feio assim,
Ou até um pouco mais,
O mais feio dos animais,
De todos eles o mais ruim,
Descaro de ruindade feia sem fim,
Veneno à mesa de ricos comensais!

A Beleza é subjectiva,
Para a mentira pode ser muito feia,
Para a verdade feia e meia,

Para ambas uma feia atractiva;
Beleza da pele admirável que cativa,
Derme que esconde varicosa veia,
Falsa beleza de podridão cheia!

Feio, por mais feio que o seja,
Pode ser lindo aos olhos de quem o deseja,

Para os olhos dos olhos é o que parece,
Mesmo que pareçam olhos de inveja,
São olhos da Alma dos quais padece!

Feio, feio, é ser-se feio,
E gostar de o ser,
Repugnante sem receio,
Ser-se tão feio e o merecer!


Feios, feios, são pessoas sem coração,
Pessoas a apodrecer na cara feia de sua razão!

3 comentários:

Anónimo disse...

Kristal,

já faz bastante tempo que meu conceito de beleza diverge substancialmente de belo!

Abraços.

Meri Pellens disse...

A beleza tanto quanto a feiúra, são coisas relativas como relativas são as pessoas. Para mim, ser belo é ser feliz. E ser feio, como vc disse, é não ter coração. Abraços.

Serenidade disse...

Lindo, Lindo Lindo... este feio que não o é, é feio pela beleza não ver, não o é o Kristal, que o feio transforma e a beleza faz aparecer.

Obrigada pelo comentário, tem toda a razão, as palavras são inócuas,só não o é a forma como as proferimos e as conjugamos com as situações em curso.

Quanto à subjectividade da beleza, até o homem que não tem coração pode ser belo, tudo depende do sujeito que o estiver a avaliar. Quanto a mim, sou da sua opinião, o verdadeiro feio é o homem sem coração, sem princípios, sem valores, sem AMOR.

Serenos sorrisos