segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Fim do Tempo que Vem

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O Fim do tempo que nosso tempo de mãos abertas aguardou,
Como se de um tempo de todos os tempos nosso tempo tratasse,
Por cada tempo que no tempo passou e parado no tempo aguardasse,
Aguardando naquele tempo tratado que pelo tempo o tempo tratou,
Acordo temporário gravado na Esperança que no tempo perdido gravou,
Esperanças temporãs do tempo na espera que o tempo fecundasse!
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E o tempo que sempre passa,
Passa por não ser o tempo pelo qual teu desejo passou,
Passando por ser tempo escondido de nova esperança traída,
Não passa de adiado tempo passado por momentos de fé vencida,
Vencendo os mesmos momentos que o tempo de ti e por ti se guardou,
Guardando teu resguardado tempo que no tempo certo do tempo se libertou,
Voando nas asas do tempo em adejado voo sobre tua hora prometida!
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Mas tudo que do tempo resta é a silenciosa profecia caída em graça,
Desgraçada na ideia calada do tempo de sempre que passa!
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São bem vindas chaves de ouro que brilham no tempo fechado,
Olhos fechados de promessas douradas semeadas no credo do tempo,
Fechaduras intemporais das palavras prisioneiras em celas de vento,
Brisa que desliza nas goelas de um passageiro por alguém arrebatado,
Descrente de tudo na crença do nada é falsa volta de pião desatinado,
Rodopiando no avesso do sentido contrário à mágoa do desalento!

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Fechaduras de mil línguas que dos tempos fantásticos se servem,
Portas fechadas que de tempos a tempos prometiam abrir-se ao alento,
Do último dia, volta o primeiro de onde as mesmas dúvidas se erguem!
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Mas tudo que do tempo resta é a silenciosa profecia caída em graça,
Desgraçada na ideia calada do tempo de sempre que passa!
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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desausência ausente (Vão de Ausências Vãs)


Procurando certezas no labirinto fechado dos dias,
Tenteias corredores onde não encontras o que procuras,
No equilíbrio vão contornas-te em tuas linhas inseguras,
Contorcendo atrevidos ângulos curvos pelos quais te guias,
Visão azimutal reconstruída no círculo que só tua vias,
Clarão de teu Destino, prisioneiro de tuas agruras!

Navegando sobre tua água que alguém não soube,
Naufragou no Amor vão de quem pouco amou,
Abraço das Ondas que o braço do Oceano abraçou,
Oceano minúsculo onde um Mar de Amor não coube,
Distância salgada que a Amor doce pouco soube,
Causa de sede distante que teu desejo não saciou,
Amar de sal onde teu potável Amor afundou!

Naufrago sedento nesse teu sal que me alimenta,
Cresce minha sede que por tua ausência me atormenta,
Vã tormenta salgada possuindo-me em turbilhão de sede,

Sede sagrada benzida em Oceano intransponível de água-benta,
Água baptismal que tão perto de tua alma à deriva esteve,
Baptista de nossas almas gémeas salvas nos nós de nossa rede,
Ausência doce que ausente de nós na salácia concentida se assenta!

Ausente enquanto navegas velas rasgadas de tua memória,
Desato o nó sagrado do cruzamento que por ti se aguenta ,
Liberdade conseguida na vã ausência que te leva à Victoria!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Abraço Triste do Nosso Sofá


Colhidos no sofá,
No conforto em que nos amamos,
Provo fungos mágicos em ideias que cultivamos,
Cioso de minha certeza na certeza que não há,
Esfiapo alucinações num fiapo que sobrará,
Fio fino amarrado ás dúvidas que despojamos,
Visão alucinada dependente do que não se verá!

Crescem cogumelos em coleantes sofás mundanos,
Zig-zag envenenado entre nuvens de luz confusas,
Metamorfose psicadélica em raios de traições difusas,
Poeira que flutua na órbita de teu corpo celeste,
Arcada orbital tua de minhas ténues visões oclusas,
Formas de teu corpo que delas por mim se despe,
Amanita ressuscitante de vida que por ti se veste,
Conforto no aconchego fraco de vistas obtusas,
Alucinatório de improvisada cama agreste!

Aludas solarizadas em frascos de mil cores,
Nadam intermitentes em filtros de asas casuais,
Desaparecem no desencontro de mil neons brumais,
Afogados voos comprimidos na descompressão de mil amores,
Alucinando prólogos finais em assinados sofás pensadores,
Personalisando efeito vertiginosos no ciume dos sinais,
Singular refúgio acolhedor, analgésico de mil dores,
Susceptíveis trips de mordazes despeitos fatais!

Só, em nossa fria cama de triste solidão imensa,
Recolhes-te em concha de pérola solitária abandonada,
Implodes teus gritos silenciados por tua dor intensa,
Bebendo tuas lágrimas imerecidas de imerecidas ofensas,
Aumentando a certeza de minha sede de dúvida revoltada,
Me enchendo na fome de ti por tua ausência subordinada,
Imenso Amor aflitivo que teu Amor aflito não dispensa,
Exíguo conforto recostado no medo de tua sentença,
Minúsculo sofá nosso, noites frias de minha madrugada!

Lágrimas solarizadas sob copas de laminadas alucinações,
Filtros tingidores de nossa alma que novas cores abomina,
Procuram a brancura de lençóis que a clareza reanima,
Rasgando adrenalina míope de conseguidas ilusões,
Mistérios desvendados na consciência dos corações,
Irresistível tentação prismal que por ambos se aninha!

Lágrima triste que nosso choro não chora,
Escorre em nosso sofá negro que me recebe,
Análise deturpada afogando quem de si bebe,
Alaga tua almofada enchida com sonhos d´outrora,
Só não mancha os lençóis que nosso Amor vigora!

Quando pensares que um sofá é cama segura de acolhimento,
Capaz de apaziguar o venenoso cogumelo fodido que te devora,
Sentirás numa só noite a verdade de teu verdadeiro sentimento!