terça-feira, 3 de março de 2009

Vinho Botado



Este Vinho está botado!...
Vinho de baga bebido,
Memórias com meio sentido,
Enganos de um mundo pintado,
Quadro falso de pintor falhado,
Que nunca Pintou um Amigo!

Este não sou esse Pintor,
Sou quem dispensa tamanho Amor!

E Tu, não sendo quem deverias ser,
Sendo ninguém e pouco mais de nada,
Tal Amizade é concepção deturpada,
Do que teus olhos deviam ver,
Mas tua visão doentiamente errada,
Enterrará teu sóbrio viver!...

Este não sou esse pintor,
Sou quem dispensa tamanho Amor!

No copo mais vinho botado,
Vinho agre de esforçado fingimento,
Fingindo ser vinho confiado,
À confiança da memória no tempo,
Que desconfiando do pensamento,
Bebe amizade em vinho desquebrado,
Como quem bebe copo de nada botado,
Amigo perdido num definhar sedento!

Este não sou esse pintor,
Sou quem dispensa tamanho Amor!

Este derradeiro vinho está botado!...
Cheiinho do nada que resta,

Tinto de tinta sem cor,
Pintando tingida nódoa de dor,
Na ilusão duma tela que não presta,
Pintado lamento de um pintor,
Quadro pobre de origem modesta!

Desbotado vinho botado,
Em pacto de sangue desfeito,
Baga por falsa casta adoptado,
É vinagre botado ardendo no peito!

Talvez seja eu esse botado Pintor,
Quem dispensa tamanho Amor!

4 comentários:

Antunes Varela disse...

Mas…

Com a velocidade que nos sai dos dedos, não deveria deixar amadurecer em casco de carvalho?

Daniel Savio disse...

Beba pelo fim do amor, mas principalmente, beba o vinho de um novo amor...

Fique com Deus, pessoal Krystaldiprosa.
Um abraço.

Inês disse...

Boa tarde krystaldiverso...

Venho agradecer as suas sempre amavéis palavras que tanto me confortam o coração... mesmo quando este está ferido e tudo e nada sente!

Obrigada pelo carinho e pela força que tanto procuro de momento.

Anónimo disse...

Kristal,

fazer auto-retrato exige, além
da técnica, cuidado.
cuidado com aquilo que permitimos
ao outro
assistir de sua imensidão platéia.
conjugar verbos na 1ª
pessoa do singular,
escrever direções,
pintar a própria caricatura...
fácil...
se por um lado,
difícil por outro.

já,
conjugar verbos na 2ª pessoa/singular e
não ser responsável,
é crueldade.

a amizade é a 1ª pessoa/plural,
em sentido,
é a troca fluidos,
não fisiológicos!
é um dar contínuo, de esperança,
aquela palavrinha mágica...

o amor fica entre
a 1ª e a 2ª/singular,
na dose exata...

o desejo, maravilhoso,
está lá,
omitido na tristeza da 1ª/singular,
contido, restrito...
no silêncio.

mas...
se vc me perguntar (e se quiser
saber)
o que faço com a tamanha
beleza de seus versos,
em que medida conjugo,
que verbos utilizo...
te respondo...

1ª pessoa/singular?
nunca!!
aDsorvo, simplesmente!

e
entre braços que se abrem,
ao recebê-lo no aconchego,
do corpo que arde...
sua mais nova amiga!

esqueçamos vinhos, bagas,
agres, tintas e pincéis,
tristezas... celebremos
a vida!


não dispense,
nem uma gota...