quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fome


Dos rostos mais feios da espécie que nos devora,
É a vergonha mastigada por uma adefagia doente,
Uma fome alimentada com a maldade de muita gente,
Diferente fartura de Espírito, alimento das almas de outrora,
A mesma fartura em falta da fria humanidade que já não chora,
Chorando solidariedade hipócrita na exposta miséria conveniente,
Sedutor donativo depositado para abastados vencimentos na hora,
Herdadas contas insaciáveis de candidaturas legítimas a presidente,
Prometida manteiga a derreter no ougado pão que à boca demora,
É tudo isso calor do momento que a fresca esperança não melhora;
Estando a mesa de reis garantida, esquece o rei seu povo indigente,
Continuando o resignado castigo de um comido povo imprudente,
Avesso virado no interior de anoréctica moda disfarçada por fora!

Rei dos espermatozóides mais fracos,
Impunha sua lei de ejaculações contidas,
Estrangulando inatingíveis orgasmos velhacos,
Com a verga amolecida por desidratados buracos,
E simulava falsas palpitações de farturas fingidas,
Como se nadassem em prazer pelo prazer nutridas,
Mas tudo se foi desmoronando em orgânicos cacos,
Quando muita da fome encoberta por olhos opacos,
Revelou dispensas vazias de fertilidade desprovidas,
Restando um forte bafio exalado de esquálidos nacos,
Herdeiro possível de escondidas migalhas perdidas!

Gratos pelo fundo migado da lambida tigela,
Mimos empedernidos cavam salgados granitos,
Matando a fome com a sede mortal dos malditos,
Cozinhando vómitos com as migas que o medo martela,
Mas são deliciosas as migas guardadas pelo Amor bendito,
De pais sacrificados na luta contra a fome que filhos flagela,
Trabalhando os calos ásperos de ódio por salário magricela!

Sobre o caruncho dos ossos de mesas quebradas,
Sentam-se costas de cadeiras coladas ao abdome,
Esperando o bolor esquecido em pratos sem nome,
Enquanto à farta vergonha de lágrimas esfomeadas,
Se junta a seca penúria de alcunhas envergonhadas,
Alimentando o choro com tristes lágrimas de fome!

Atentados à pobreza são pagos em instituições de caridade,
Com a caridade dos pobres servida à mesa pelo pobre cicerone,
Repastos de pobreza cozinhada na inópia de mirrada solidariedade!

*

5 comentários:

Teresa Alves disse...

¬10 de junho “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.


O UniVerso é a mesa e o alimento é a fome. É DiVerso anVerso e proporcionalmente adVerso porque sabe que em outros dias, todos os dias é dia de fome, até para quem não sabe o que é sentir fome.

Assim, KrystalDiVerso.

Assim um poema, cuja poesia só existe na consciência de quem possa avaliar qual é a sua posição frente à realidade que o cerca. Se sentido, consente, ou se sentido, reage e busca alternativas que possam se transformar em ações. Ações que não façam parte de estatísticas, ou do marketing pessoal.

Se na apresentação da "FOME" era a pizza que inaugurava o novo poema com imagens conhecidas nossas, propagadas pelos meios de comunicação na intenção senão de sensibilizar, DiVerso, em versos de seu reVerso, no novo ‘wallpaper’ farta a mesa em proteínas, carboidratos e vitaminas, enfeita a parede com alguns símbolos das 'organizações de combate à fome', tritura alguns dólares na intenção propositada do desperdício e "das costas sentadas às cadeiras coladas do abdome", nem a Angelina Jolie escapa de sua ironia.


E concluo que aqui, pelo menos aqui, nem tudo 'acaba em pizza', porque são homens como você, DiVerso, que fazem alguma diferença nesse mundo, como autor de poemas a ensinar de alguma forma a amenizar as desigualdades, a lutar contra as injustiças, pela lição cotidiana, expressa em pequenos versos.




||@.
Só a agradecer pela oportuna reflexão a me lembrar mais uma vez que "o que a mão direita faz a esquerda não precisa saber" e que "é na manteiga que reside toda a tentação".

Bom Feriado.

Teresa Alves disse...

"Com a caridade dos pobres servida à mesa pelo pobre cicerone,
Repastos de pobreza cozinhada na inópia de mirrada solidariedade!"

Pela edição dos versos e do 'wallpaper', com o novo design:
Do UniVerso em tons de azul, diversos, uma cor de equilíbrio e paz, reVerso aos poemas.

O contraste, ele continua sendo necessário, DiVerso.




||@
Casa nova com cheirinho de aconchego.

Graça disse...

Gosto de ler este teu discorrer poético, cheio de tantas verdades...


Beijo e bom domingo.

poetaeusou . . . disse...

*
amigo
,
sabias que existem estudos,
que provam que dos donativos
privados e governamentais de
todo o mundo, só 5% chegam
ás pessoas necessitadas,
por onde ficam os outros 95% ?
talvez o António Guterres saiba,
uma vez que foi escolhido, para
mais um mandato, pela ONU .
,
um abraço,
,
*

Luna disse...

Quantas verdades aqui dizes,triste a que este país chegou, mas assim é muita gente quis mostrar um nível de vida que não tinha e endividou-se, é assustador as casas que estão a deixar de ser pagas, os empréstimos,cartões de credito, eu trabalho num banco e te garanto que é uma tristeza, depois há muita gente que dando um donativo sente que lava as mãos de toda esta sujeira, enfim...fico-me por aqui , não vá eu dizer coisas que em vale a pena falar
beijinhos