quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Abandonada às Palavras



Sentir tua sombra instintiva,
Que minha luz apagada empalidece,
Impele-me à masturbação que acontece,
Numa cruel raiva infectada de leitura passiva,
Só tolerada por minha rejeitada maluqueira viva,
Que do teu indiferente Amor meu desejo padece!

Sobrevoo velhos declives das antigas histórias malditas,
Busco esquecidas palavras abandonadas que me enganam,
Na força estranha de entrelaçadas odisseias mal escritas,
Em cordas distorcidas de nossas mentiras restritas,
Cópias das cordas que as verdades esganam,
Escrevendo rabiscos dos quais se ufanam,
As cópias sábias de ignoradas eruditas!

Meu prazer insatisfeito é incomensurável,
Sempre contínuo e para todo o sempre incompleto,
Meu desespero partilhado é um forte desejo circunspecto,
Perdido entre a memória em carne viva do teu sexo mutável,
E a morte do Amor por mim que em mim é dor insuportável,
Sepultada no orgasmo incompleto de um divórcio discreto!

Moldo naus apodrecidas com páginas amantes,
Para navegar oceanos de palavras que me afogam,
E me salvam de orgulhosas vergonhas degradantes,
Em cada capítulo inacabado de solidões frustrantes,
Que sobre inconfessáveis trocas de solidão dialogam,
Ensaiando prévios monólogos que as palavras rogam,
Aos pés de vivas mágoas de abandonos estonteantes!

Sou agora uma cópia de palavras prostituídas,
Insinuantes nas esquinas de livros que ninguém lê,
Sou a palavras infectada de minhas estimadas feridas,
Alveolar morfina contrafeita de Afegãs papoilas destruídas,
Só não sei se sou o que não confesso ser da mulher que não se vê,
Por incrustada palavra que na cavidade de minha solidão fica à mercê,
Fechando-me no medo do abandono de paralelas palavras amigas!

Voam alvéolas amarelas dos parágrafos descontinuados,
Esvoaçam intermitentes no rasto intermitente dos insectos,
Letras de caça abatidas em ímpares palavras de pares indirectos,
Que se refugiam sob a pele das palavras com diferentes significados,
Parecendo iguais na descrição das lágrimas de olhares encurralados,
No pasto da cabra que há em mim entre ovelhas de negros afectos!

Continuo masturbando-me entre minha obsecada leitura,
Enquanto procuro o único orgasmo que nunca soube atingir,
Restando-me o prazer inacabado no incógnito final da procura!

 

1 comentário:

Teresa Alves disse...

DiVerso abre o livro, folheia páginas, seleciona um capítulo e recita novo poema. Nas tintas usadas, a serenidade e a harmonia coadunam com poema de amor e os traços determinantes do pincel pontuam o conflito entre o que se sente e o que se declara sentir.

Há controvérsias!

“Abandonada às Palavras” negocia gratidão no corpo do desejo e se prosa ou se poesia, não importa, carece de amor e mesmo que não seja correspondido, nasce, cresce e acontece, das rimas ou dos versos livres n“o único orgasmo que nunca soube atingir”, porque o prazer é ato contínuo e não se acaba nunca.

Porque há amores assim.

Krystal fecha o livro, não antes de ler: ‘Continua no próximo episódio’.