quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Serra dos Abrolhos Brancos



De nariz no vidro, do nada apareceu espavorida,
Todinha vestida de indutoras frescuras brancas,
Adivinhava-lhe rendas íntimas e uma sedosa liga,
Entre a meia-idade das ainda capazes coxas, perdida,
E outra, de um branco-sujo, exalando ácido de potrancas,
Compradas, avulso, na lembrança sedutora daquelas ancas!

Notava na brancura, carnes amolecidas,
E sais de banho das fragrância silvestres,
A espuma curiosa das certezas perdidas,
Escoadas no ralo das traições cometidas,
Pelos descansados enganos dos trimestres,
Alcovitados na nobreza de passeios terrestres,
Esses ínvios caminhos das mansões prometidas!

Foram sempre os ventos da serra,
Que erigiram metrópoles serranas,
Por caridade de remeladas pestanas,
Esses cadeados de olhos sem paixão,
Caídos nas raízes dos abrolhos da terra,
Que cegos para o amor e para a guerra,
Cavavam a paz entre as pedras soberanas,
E a encrespada pele de sapo do vento suão;
E foi esse fustigar, atestado de recomendação,
Que os ensinou a lavrar o papel que ainda os ferra,
Com toda a raiva do plexo de originárias membranas,
Enterradas no anonimato migratório da tentada elevação!

Afinal, as serras também são cosmopolitas,
E os carros brancos não escrevem sobre granitos,
Migram entre cores indecifráveis de círculos eruditos,
Permanecendo na raiz antiga dos abrolhos eremitas,
Que os prende às terapias das estimadas escritas,
Remédio de amor de aprisionados sítios benditos!

A metrópole das serranias,
Cava calos no corpo humano,
Desenterra rústicas fantasias,
E cultiva familiares simpatias,
No recato do povo serrano!

A moçoila de branco escorreito,
De nariz bem colado aos vidros opacos,
Procura pedras de ouro no sonho desfeito,
E amor nos espelhos de seus reflexos fracos!

*

E a Moçoila em seu carrinho branco,
Atrás dos vidros…

2 comentários:

Teresa Alves disse...

As estradas! Suas curvas e suas surpresas. ‘É pau, é pedra, é o fim do caminho...’!

É DiVerso, adVerso, nos versos de outono, na tinta fresca e clara, a “Serra de Abrolhos Brancos” é poema de luz [fiat-lux] face à realidade que se vivencia, sujeito a enganos e alguns acidentes, às vezes fatais.

As palavras, ao “lavrar o papel que ainda os ferra”, é a denúncia permanente de quem não sendo quem se diz ser, mostra-se. Migra-se o anonimato, mas mantém-se a essência, para condutores e conduzidos, independente de que lado o vento sopre.

Nem todo caminho é promessa, nem toda promessa é caminho. Alguns medicamentos salva-nos, ou da morte ou da doença, ainda que não nos cure, proporciona alguma alívio. O ‘amor’ é um bom antídoto a qualquer patologia e a palavra usada no momento oportuno, tem seu mesmo efeito colateral. Para o bem ou para o mal.

Ser cauteloso, reconhecer os sinais de trânsito e principalmente, considerar que “na dúvida não devemos ultrapassar” são medidas profiláticas aos acidentes comumente acometidos.

Vidros opacos não traduzem fidelidade na imagem refletida. É preciso que saibamos reconhecer a origem dessas imagens e diferenciar, na estrada, pedras de obstáculos. Para não incorrer em erros, que assim como a palavra imprópria, dificulta o caminho do caminhante, nas pegadas que se pretende deixar e nos sonhos que se almeja atingir, umas vezes encurtando caminhos, outras, prolongando, nunca no respeito ao seu tempo, à velocidade ideal e permitida.






Agradeço pela estrada e pela companhia nas minhas insanas divagações, mas sempre tão oportunas à reflexão e ao aprendizado que retiro de seus versos.

Boa viagem, DiVerso!

Teresa Alves disse...

http://letras.terra.com.br/tom-jobim/49022/

Música para ouvir durante o percurso.



A delicadeza de DiVerso na abordagem do tema, exige que diga mais uma vez: seus pincéis, na tela de KrystalDiverso, quando originam de situações experimentadas, são seus mais belos poemas.