quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rebusco do Respigo




No final das vindimas,
Já não corre à solta o riso patusco,
Nem se recorta o gesto das pantominas,
Na sombra da luz de velhas lamparinas,
Que iluminavam as histórias de rebusco,
Combinadas com as tesouras traquinas,
Desafiadas pelo cacho mais robusto!

Um ancião com histórias infinitas no olhar,
Falava aos gaiatos que o ficavam a contemplar,
Atentos às sábias palavras que sempre trazia consigo,
-Filhos, não esqueçam o que agora vos digo;
Nem respiravam, os petizes, para o ouvir falar:
-É importante haver alguém em quem se possa confiar,
Para que não seja preciso fazer o respigo,
No fim da vindima que os vossos filhos vêm rebuscar!

Há três bagos escondidos atrás da Folha de Videira,
Aguardando o filho de quem os ajudou a esconder,
Há vinhas ocultas cultivadas por ignorante cegueira,
Abandonadas na sombra vindimada da culpa solteira,
Amante de misteriosas sombras que ficaram a dever,
A Luz solar nas encostas de costas deitadas à asneira,
Deixando que videiras sem memória ficassem a arder,
Entre obscuros bardos de cachos parados de crescer,
Quando as cepas vivas foram queimadas na fogueira,
Com os cheques inflamáveis que ninguém quis deter!

Há um provecto a deixar escorrer um sorriso,
Quando afaga a escola retomada da necessidade,
Há ainda outro velho sábio com um sentido preciso,
Protegendo três bagos no olhar de um gaiato indeciso,
Entre o respigo perdido e o renascido rebusco na vontade!

Um moço vivaço com a luz de um candeeiro reflectido no olhar,
Conta histórias sobre três bagos maduros de vaidade,
Que muitas famílias ajudaram a sustentar!

2 comentários:

Teresa Alves disse...

“Robusco do Respigo”, com as cores do outono, é um poema de amor que nasce da criatividade [intuição criativa] de DiVerso e cresce da visão poética adquirida no conhecimento e na experiência que molda a sensibilidade de Krystal.

O uniVerso literário não diverge da lucidez que se faz, todas às vezes, imprescindível às necessidades do historiador e de suas personagens. O cenário é real e o conto, uma conta a mais na aprendizagem de quem desconhece sua cultura: “...sobre três bagos maduros de vaidade, Que muitas famílias ajudaram a sustentar!”

É tempo de parar, pensar e refletir. Por ato ou omissão a fome persiste e enquanto para alguns sua referência é suficiente, para KrystalDiVerso são as expressões causadas que determinam suas ATITUDES, através da sua representatividade.

“...atrás da Folha de Videira” além dos versos e da teoria, também encontra-se a prática, além dos sentidos, os sentimentos e “Um moço vivaço com a luz de um candeeiro reflectido no olhar”.

Esperança!




Teresa Alves disse...

"Respigo" tem os elementos principais de outras imagens:

'Pina de Morais (Reflexo dos Tecidos)' [DiMagem_setembro/2010;
'Perspectiva Ilusória (Pião)' [DiMagem_setembro/2010];
'O Fim da Vindima' [DiMagem_outubro/2010];
'Mosto de Teu Rosto' [KrystalDiVerso_setembro/2009].

DiVerso, ao utilizar algumas de suas imagens na 'criação' de "Respigo", onde cada elemento, com as cores do outono que se sobressaem no wallpaper, compõem o poema "Rebusco do Respigo", não se limita à linguagem visual que cada um deles representa, também explora seu conteúdo textual.

Da confirmação nasce a arte "KrystalDiVerso".

Uma ideia que se amarra a outras ideias e resulta num conteúdo amplo e complexo, mas visivelmente em harmonia e equilíbrio com aquilo que foi poesia num determinado momento e época, da sua história em muitas outras histórias.





Bom fim de semana.