segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pícaros Angustiados


Pícaros angustiados,
Abraçam braços cruzados,
Assinatura de abraços fechados,
Firmadas com fios de frágeis enleias,
Esperam carícias por enlevadas ideias,
Crescidas em cérebros financiados por teias,
Grossas de sangue entre açúcar de veios arrastados,
Derrames de doce veneno que lhes corre no gelo das veias;
Escorrendo na consciência retórica de eufemismos extasiados,
Vendem-se orgasmos dos insaciáveis objectivos alcançados,
Em vez do preservativo consciencioso das assembleias,
Barrigas de aluguer prenhes de imunidade às cadeias,
Bastando que por todos os meios sejam abusados,
Humanidade perfeita pelas razões mais feias,
E os dignos direitos dos eternos violados!

Vozes trémulas oferecem geleia de confiança,
Tingem ávidas papilas com gostos distintos pelos corantes,
Maçãs azuis e morangos violeta matam a fome de uma criança,
A ilusão da consistência tem uma trémula e doce semelhança,
Com a amargura de uma digestão difícil rica em diamantes,
Enfeitados com esperanças de ouro e salvas radiantes,
Salvação das ilusões nas cores negras da Esperança!

Na vanguarda da frenética tecnologia,
Luz é um jogo de trevas num tabuleiro do tempo,
Jogado pelo pó secreto de uma esotérica maçonaria,
Que apostando nas mecenas vitórias do etéreo momento,
Faz valer sua silenciosa vontade do receptivo argumento,
Comprado pela influência escondida de corrupta teoria,
Demonstrada na prática com novos jogos de ironia,
Dividendos angustiados disfarçados no orçamento!

Há privilégios interditos que nos respiram,
Medos em nós que asfixiam o ensaio do abraço,
Há uma côdea de pão bolorento num olhar de cansaço,
Tristezas escondidas na vergonha dos Amores que fugiram,
Há fingimentos primitivos em corações que desistiram,
Próceres moldam cérceas no corredio nó do baraço!

Há um pai de ninguém na angústia dos lazarados,
Senhor absoluto que nada dá do que dele merece dar,
Apostando o futuro perdido de quem não pode jogar,
Dando angústias aos Pais que deviam ser venerados,
As mesmas angústias marcadas nas faces dos dados,
Viciados por pícaros de Sorte, mensageiros do azar!

Há angústias irradiando felicidade,
Tão perto de angústias sem identidade!

5 comentários:

Teresa Alves disse...

Poema e poesia se unem aos “Pícaros Angustiados”, onde o verbo é 'tempo' e as rimas se revestem na razão social de um país de contrastes.

De braços fechados aos abraços, já não vale a pena abraçar velhas utopias. Ao mesmo tempo em que trocá-las pelos braços cruzados seria muito pior. Resta então a poesia, os versos e o grito, na voz que não se cala diante da realidade social tão sofrida, onde a fome a miséria são “Maçãs azuis e morangos violeta”, que DiVerso não teme em denunciar.

O poema, que não é de amor, é de arte. Ao leitor, cabe a interpretação e depois dela, a mensagem, na resposta da reflexão que se faz necessária.

É Natal. Ou quase Natal.

A tela é sóbria, mas a chama arde. Acesa e viva, reluz esperança.

O Pai de amor é de merecimento. Confiemos.
¬

Teresa Alves disse...

"Humanidade perfeita pelas razões mais feias / E os dignos direitos dos eternos violados!"

Doloroso, mas no tempo do verbo, é o seu melhor verso, DiVerso.

A sensibilidade é a sua melhor autoria, Krystal.
¬

Daniel Cristal disse...

Não creio que a verborreia seja a melhor opção nos tempos actuais, nem o excesso de vernaculismo, nem o montão de metáforas que um hai-cai facilmente poderia exprimir em 3 versos magistrais. 14 versos no máximo dizem às vezes mais do que uma ode de 20 sextilhas ou quintilhas. Mas uma ode pode conter apenas 3 ou 4 estrofes, são as que produzem mais impacto, na minha mabneira de interpretar a Poesia. Esta é sobretudo contenção, a mais simples possível, a mais trabalhada depois de talhada à sua minúscula implosão. Nem preciso é a rima, ela pode atrapalhar, escangalhar, dissonar por mais rica que seja. O núcleo significante quando deflagra contém um enorme trabalho por trás que ninguém vê, nem imagina. As costuras duma obra poética é a mais difícil tarefa dum poeta na actualidade. Veja, e perdoe a um escrivinhador, como v/c considera a minha obra, que não vale nada, só com ou outro poema aproveitável, consideração que destoa nesta Internet quando ela é lida em todo o mundo por muitos milhares de atentos e assíduos leitores, fãs, amigos, compnheiros, conhecidos(pergunte ao poeta Nuno Rebocho que dirigiu O LIBERAL de Cabo Verde a quantidade de nº de visitantes a ler os meus textos, ou ao prestigiado website Blocos-on-Line, que me homenageou no Brasil, ou o 2º lugar nos TOP TEN Cultura Brasil (O primeiro foi dado a PORTAL erótico!!!), com a TÁVOLA LITERÁRIA, ou...ou...(não me vou alongar), POIS APESAR DE TODA ESTA CARGA QUE TRAGO ÀS COSTAS, receba se quiser este conselho, dado a um irmão, que tanto pode sê-lo como não da sua parte. Do meu lado é a minha postura que me compromete e nela me firmo.
FESTAS FELIZES, António Pina,
a)

KrystalDiVerso disse...

Caro amigo A. Figueiredo, fazer poesia sem rimas, faço-a em comentários normais, em conversas de tasca (ricas)ou quando, simplesmente, abro a boca para "vomitar" qualquer alarvidade!... Porque sou assim!.... Nunca lhe passou pela cabeça que um simples VERSO onde minhas METÁFORAS são donas do meu universo Poético, possam ser um conjunto dos mais DiVersos compêndios?... Eu não quero resumir um UNIVERSO imenso a um simples VERSO; cada VERSO de Krystal, deverá ser um UNIVERSO!...
Sem rimas... não dá "pica"!.... demasiado fácil, ao alcance de qualquer um, até do pior de mim!... Apenas para comentários na blogosfera e conversas de tasca ou, até, de esquina!... Porque não tenho qualquer obra conhecida reconhecida ou, sequer publicada!... Nem me passa pela cabeça!


Abraço

Teresa Alves disse...

A teia, o cérebro, a mão e a chama.

Revestem-se versos e imagem. Abrigo obrigatório da busca incansável pela perfeição.

Porque é impossível restringir qualquer uniVerso a um simples Verso.

¬
Feliz Natal à familia KrystalDiVerso.