Cercada por lágrimas em revolta,
Sou doce ilha em aberto mar salgado,
Navego à deriva por valquírias envolta,
Perseguindo o sonho do guerreiro sonhado,
Que rejeito sem medo, por medo infundado,
Onde afogo meu submerso amor emergido,
De um abismo de sal pelo Amar perdoado,
Encontrando-me num sonho perdido!
Valquíria de Odin quisera eu ser,
Escrava dos deuses e tua deusa alada,
Quisera eu lamber corpos de espuma suada,
Saboreando sal grosso da salgada espuma penetrante,
Voei entre mergulhos conquistados em tronos de poder;
Abracei a força Neptuno e fiz-me sua doce sereia encantada,
Cantei azuis marinhos e dancei com sensuais algas de prazer,
Montei Cavalos-marinhos e unicórnios de mágico semblante,
Ao dispor do Sol de minha vaidosa adolescência delirante,
Delírios felizes que a memória se vai esquecendo de viver,
Despindo o manto de mar revelo-te meu corpo escondido,
Ausente de si, ausente de mim e pela ausência possuído,
Vai desistindo da vida, vai morrendo o amanhecer!
Sou uma ilha salgada,
Retalhada por mil pensamentos,
Sou arquipélago de todos os momentos,
Por tempestades de lágrimas açoitadas,
Impelindo as minhas dúvidas sagradas,
Atraindo-se num só, mil fragmentos!
Sou Mulher que voa, nada e rasteja,
Sou Valquíria e sereia que ama e não deseja!
2 comentários:
Um poema numa voz do universo feminino.
"Despindo o manto de mar revelo-te meu corpo escondido..."
Quantas vezes a ler, quantas tantas a reler e ter a compreensão exata de que palavras ficarão para sempre contidas neste único verso, para só depois, pela aDsorção do poema, estabelecer a fusão, entre as "Valquíria"s e aquilo que somos, ou que gostaríamos de ter sido.
E lamentar-se ou não.
¬
Bom domingo.
Dezembro de 2008, DiVerso inaugura no palco de Krystal "Valquíria Submersa".
Outubro de 2010, "Valquíria Submersa (reposição)" é publicado mantendo a estrutura linguística do poema original, apesar do acréscimo de algumas palavras.
Nenhum verso sofreu danos, ao contrário, as palavras, bem como o título já o diz, serviram apenas de 'reposição', no sentido exato que o verbo o exige.
Um poema de amor numa história de amor, e como dito anteriormente, dentro do universo feminino.
"Cercada por lágrimas em revolta" marca o conflito entre o passado e o presente, umas vezes amigo, outras, inimigo:
A descoberta do corpo e o despertar do desejo "Ao dispor do Sol de minha vaidosa adolescência" prevalece nas lembranças que não morrem, mas que secam de desejo e com o tempo, "Vai desistindo da vida, vai morrendo o amanhecer!", aprendendo o caminho da conformação, sem conformação.
Envelhecer traz benefícios, mas também causa malefícios irreparáveis: "Sou arquipélago de todos os momentos".
O 'ser mulher' no corpo que ama, que arde e queima de desejo, sem ser desejada: "[...]Sou Valquíria e sereia que ama e não deseja!"
Um poema de uma certeza cruel, DiVerso.
¬
Acostumada a aDsorver, volto, leio, releio, esqueço o verso que me prende à atual realidade de minhas próprias experiências de vida e na visão holística do uniVerso feminino, atento-me ao poema. Identifico fatores pré e pós, mas é no 'durante' que encontro perguntas às respostas que não mudam de lugar.
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