domingo, 31 de maio de 2009

Notas Madrastas

Aquela nota madrasta,
Que por ti se atrai e arrasta,
Lavra branca de filhos em linha,

Cinco linhas de um olhar que basta,
Alegro marialva que de fininho definha,
Ressuscitando cada alma de nota sozinha,

Libertino triste que de ti se afasta!

Rouxinol de papel em poisos de pentagrama,

Solta pio escondido que cresce de mansinho
Trovão de elevada ode afogada na lama,
Substituída arte por arte de triste fama,

Canto lírico de tonto poeta sozinho,
Trinado falso de manhoso comezinho,
Falsa voz que o canto roubado clama!

Enteados geniais esbatidos na vaidade,
Esganiçados falsetes de opereta fugaz,

Piano mudo onde a voz jaz,
Afonia de tenores de sorte finada,

Por eles tão nobre arte desprezada!

Poalha de ouro em notas de poalha,
Poalha que baila em poalha de si,

Áudio poluto de poluta gralha,
maior doído em queda nota de mi,
Forçado farfalho do que falha,
No que denota notas de fado putedo,
Melodia escrava de chulo-pó traiçoeiro,

Desvanece-se relento pelo nevoeiro,
Desaparecendo na pauta rameira do enredo,
Tão misteriosa que por semeou o medo!

Aquela nota madrasta,
Espreitando da noite que a toca,
É nota envergonhada e gasta,
Composição de nota pura e casta,
Alegro triste que seus filhos invoca!

4 comentários:

Obscuramente disse...

Boa noite.
Estive ausente durante a ultima semana, mas desde já agredeço os comentários que tem feito aos meus escritos.
Em relação ao pedido de utilizar o texto "O Diabo anda nas ruas da cidade", tenho apenas a referir que terá de reservar à minha pessoa ou ao meu blog os direitos de autor de conceito. Penso que é apenas justo, não tenho problemas em que me sejam copiadas as palavras... apenas não gosto que me copiem as ideias. De resto, espero que possa produzir um bom trabalho a partir das minhas humildes palavras, as minhas "coisas de louco"...

Abraço e continuação de boa escrita.

AnaMar (pseudónimo) disse...

Aqui deixo um sorriso pelo poema sentido, triste.
Mas belo.
Aqui deixo notas mães, amigas, de música.

Aqui deixo um pouco da minha nostalgia ao encontro das palavras que bailam neste espaço.
E um beijo.
E um abraço.

Nilson Barcelli disse...

Se ler poesia tua não identificada em qualquer lado, reconhecê-la-ei como tua.
Tens um estilo muito próprio e original.
O que consegues fzer com uma mera nota madraste é magnífico.
Gostei, como é óbvio.

Caro amigo, um abraço.

Ernesto Dias Jr. disse...

Meu caro:
Cá estou a pagar-lhe a gentil visita ao Assertiva, e a agradar-me com teus poemas.
Um transoceânico abraço.