quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Orgasmos Fingidos





Deitada na cama,
Sob lençóis brancos de linho,
Recebe um homem que a ama,
Abrindo as pernas à falta de carinho,
De coração resignado a mais um espinho,
E abre os olhos à lágrima que não engana!

Vinha-se em ais dos orgasmos sonoros que fingia,
Naquelas frias madrugadas casuais do tesão do mijo,
Aproveitados momentos tristes de um oportuno pau rijo,
Do carinhoso marido que a ele mesmo há muito tempo mentia,
A meio da função murchava a verdade dentro da mulher que sofria,
Sobrando o Amor que oferecia lágrimas fingidas de grato regozijo!

Esmagada pelo peso doméstico do drama,
Sente em seu corpo inquieto a necessidade de sentir alguém,
E ainda que não mostre sua necessidade de sentir-se também,
Teme compreender os desejos que o seu corpo proclama;
Na ausência dos orgasmos interrompidos com desdém,
Ajoelha-se ardendo de tesão aos pés de ninguém,
Suplicando o perdão pelo pecado que a reclama!

Não sabia amaldiçoar o Amor prometido,
Jurara respeito sem desvios infiéis na sua ventura,
Mas tanto respeito dedicado e tão sufocante ternura,
No leito era um cativeiro de doloroso prazer oprimido,
A um coito frio, sem qualquer prazer feliz, resumido,
Transformando a cama numa mesa de tortura!

E o vento que sopra seus segredos,
Envolvendo ais de sonhos misteriosos,
Fala de genuínos orgasmos prodigiosos,
De uma virgem aliviada de seus medos!

Penetrada pelo vigoroso tesão da vida,
Centrado no órgão selvagem que a possuía,
Revolveu-se dentro de si uma força incontida,
Liderada por um anjo que entre demónios ardia,
Enlouquecendo de gozo o pudor que se subvertia,
Salivando lágrimas de arrastada virgem arrependida,
Domesticada na contenção de uma educação perdida,
Em desejo escondido entre as pernas que o fogo lambia,
Atiçando orgasmos infernais de uma mulher agradecida!


Há muitos orgasmos fingidos entre lençóis,
Há abundantes ejaculações de olhos que choram,
Há tesão em cantos presunçosos de pobres rouxinóis!


6 comentários:

Teresa Alves disse...

Um homem, uma mulher e o sexo. O amor. No desejo o dever. Na paixão a dor. Uma história de amor na falta do amor próprio. Poema de amor e sexo na convenção da educação que causa dor, mas não sufoca o desejo.

"Orgasmos' não economiza[m] versos às 'Lágrimas". A pele delata e nasce a poesia fogosa. É Mulher!




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Jaime Latino Ferreira disse...





mas também há os outros


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Agosto de 2010

Bisão disse...

Sexo... Será que é assim tão mau?
Não sei o que é orgasmos fingidos, mas se tiverem metade do gozo dos ditos normais...ui ainda por cima múltiplos.

Teresa Alves disse...

DiVerso, em noite de verão, na edição do 'wallpaper', acrescenta versos ao poema "Orgasmos Fingidos".

É DiVerso e é Krystal, brincando com letras e imagens, construindo Versos e favorecendo a reflexão em reVersos de tintas frescas e sombrias, na perfeita sintonia entre tons e palavras.

No linho, cama de fidelidade à convenção de uma sociedade que dita suas regras, a mulher é 'recipiente' de lágrimas cristalizadas. Casais complementam-se em prazeres solitários, numa cumplicidade castigada pela ausência do desejo que não se realiza. O fogo, tormenta de sorrisos, escraviza o corpo que não cede aos estímulos, queima a carne que arde pelo desejo não contido e na intimidade da roupa casta, a denúncia do excesso causado pela falta.

O que sobressai a arte, entretanto, e depreendo a mensagem principal do poema, é a representação da imagem do Criador, lembrando-nos do sexo não apenas à procriação, mas naturalmente complementado como fonte de prazer à vida conjugal, delineada sob o estereótipo casal em posição estratégica.

Tal qual poema. Tal qual muitos casais. Tal qual a história que sendo de amor, não sacia o desejo.




!!@
Bom fim de semana, DiVerso.

Teresa Alves disse...

!@

DiVerso,
acabei de concluir que a imagem, quando bem relacionada ao poema, bem como algumas de suas fotografias em DiMagem, falam textos, no caso, declamam a poesia.

Só na edição do 'wallpaper' que consegui interpretar [adequadamente ou não, mas à minha forma de 'sentir'] a imagem do Cristo ao poema, que até então passava-me desapercebida: A Bíblia e os pecados sexuais.
E entender porque o poema tinha tons tão sóbrios... não caberia vermelho-paixão-sedução, afinal é 'apenas' um poema de amor, com desejo, sem desejo! Toda sobriedade é mesmo necessária.

poetaeusou . . . disse...

*
bravo amigo, bravo,
,
um formidável texto,
parabens !
,
aquele abraço,
,
*