sábado, 11 de setembro de 2010

Folhas das Árvores que Choram



*

Afagada a cor de uma última folha que resta,
Pela lágrima em seiva de um olhar meigo libertado,
Liberta transparências dos carreiros duma densa floresta,
Que agradecem os veios em pagos de um castigo calado,
Por flutuantes perdões verdes de um seco silencio parado,
Remissível no sossego da dádiva que ao grito se empresta,
Soltando a Folha muda da palavra nua que se manifesta,
Num espairecido suspiro de verde adeus ignorado!

Na força da folha que falha,
Faz-se forte a fábula que fala,
Excitando a façanha que embala,
Faguice que na nudez pálida se espalha,
Tocando vestes nuas caídas de um farto seio,
Transformado em ternura de uma etérea poalha,
Inebriando de luz a liberdade do suspiro seguinte que se cala,
Porque a última folha é olhar verde caído de uma eterna batalha,
Perdida na cor que na vida, entre a morte, à dor vive alheio!

Um vento frio fustiga árvores sem tendência,
Árvores altivas que tornam o vento frio mais frio,
Ao serem envolvidas por serpentinas de inocência,
Que envolvem o vento numa espiral fria de exigência,
Convencendo-o a ser um terno berço de leito macio,
Que acolhe a despedida de um dormente beijo vazio,
Por adormecidos lábios mornos de atenuante sonolência,
Sossegando todas as folhas caídas, filhas de Amor sadio!

Uma a uma, enquanto o tempo dorme,
Delicadas, abrem-se as mãos suavemente,
À cor esmaecida de um verde ausente,
Soltando o gesto num lamento enorme,
Que se repete em silêncio conforme,
No poiso de uma folha jacente!

Na floresta sem cor de muita gente,
Há folhas caídas dos olhos das árvores que choram,
Derramando a seiva de esperança que o coração sente!

*

2 comentários:

Teresa Alves disse...

Do wallpaper:

Tempo de colheita. Tempo de reflexão. Tempo de Krystal. No prenúncio do Outono, “Folhas das Árvores’ no chão de DiVerso ’que Choram” é poema de versos que o amor escreve e a realidade faz a revisão.




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Suas folhas adubam a terra, DiVerso.

Teresa Alves disse...

“Um poema só termina por acidente de publicação ou de morte de seu autor.”¹

DiVerso edita o wallpaper, o 'homem-árvore' e seu cajado representam a justiça. Na floresta, sob fresca sombra, suas folhas embalam o sono dos inocentes - o cuidado. Acima, a lágrima com paisagem celestial, marca KrystalDiVerso.

Quase outono e o poema, “de uma última folha que resta” conta a história não de amor, mas de muitos amores dentro de um único amor. Talvez contido, restrito e condicionado, nem por isso menos amor, nem por tanto, menos amor, ainda que “espairecido suspiro de verde adeus ignorado”, continua sendo AMor. “Na força da folha que falha”, algumas árvores durante a época mais fria e de menor luminosidade [árvores de folha caduca] liberam suas folhas para economizar energia e sem as folhas, a seiva é armazenada nos galhos e troncos, que são mais difíceis de congelar, garantindo energia ao seu próprio aquecimento. Tal qual a natureza que é sábia, Krystal, “acolhe a despedida de um dormente beijo vazio” porque compreende que esta 'morte' é necessária à sobrevida dessas árvores, “filhas de Amor sadio!”.

Mas “Há folhas caídas dos olhos das árvores que choram”, talvez pelo egoísmo, ou pela incompreensão, “Derramando a seiva de esperança que o coração sente!”. Ou talvez por ser amor, apenas amor, ainda que contido, restrito, mas nunca condicionado.

“Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.”²

Resta saber que tipo de árvore somos. De qualquer forma, as folhas que caem, continuam adubando a terra, DiVerso. Agradeço pela lembrança de algumas 'coisas' perdidas, sentidas e quase, quase, esquecidas.





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1- QUINTANA, Mario. “Ars longa”, Caderno H. In: Poesia completa, p. 251.
2- QUINTANA, Mario. “A Voz”, Caderno H. In: Poesia completa, p. 295.