quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pérolas Lustrosas



Emprestava à educada adulação que dava,
Toda a beleza celestial que dos anjos adultos não tinha,
Redigia aromas de alfazema por cada palavra que perfumava,
Oferecendo vigor ao deleite das flores em Primavera de rainha,
Que levitava em volta do nascer dos sóis que seu reino mantinha,
E deixava despedidas ternas ao fiel súbdito que por ela se cultivava,
Rodeando-se do servil infinito que às doces palavras, lisonjas dedicava,
Por cada sol posto que deixava em misterioso perfume de uma adivinha,
Guardada na cor de frasquinhos invisíveis das essências que não adivinhava,
Fechando todas as palavras num livro onde sua palavra não estava sozinha!

Oferecia às palavras uma outra versão da verdade que lhe ia na Alma,
Escrevendo lisonjas amorosas no branco dos olhos escancarados ao Sol,
E aquecia o engodo iluminado da estima no sedutor espigão do anzol,
Com que pescava os amores que nadavam nas repescagens da calma,
Para ambos flutuarem sobre a inércia da corrente morta em seu prol!

Enfiadas na dupla transparência das linhas escondidas,
As mais lindas pérolas que no cerne das palavras se formaram,
Mostravam todo o amor dedicado ao infinito das conchas perdidas,
Que se abriam de amores às contas de vidro e outras pérolas prometidas,
Prometidas pelo carinho lustrado do colar que ao carinho recebido colaram,
Semeando graças brilhantes na sombra grata do desassossego que as alteraram,
Com o sossego das promessas antigas ensombradas por pérolas esquecidas,
Apagadas da memória, na folha que em suas páginas separadas voaram,
Poisando entre as costas voltadas do segredo ao abrigo das intrigas,
Onde dormiam sossegadas no espelho das entre costas amigas,
Reflectindo adulações educadas das palavras que amaram!

Às vezes pressente-se uma agitação consentida, próxima do naufrágio,
E os porcos inocentes que se debatem entre a culpa das conchas antigas,
Emergem, lustrosos, num quadro de lustrosas pérolas coladas ao adágio!

2 comentários:

Teresa Alves disse...

Agosto já se foi. É setembro e quase outubro.

Na razão, os versos, “Pérolas” de poesia, estilo DiVerso.

Ainda que não seja um poema de amor, não deixa de ser sobre o amor.

Frases e palavras complementam-se e ‘fecham-se’ entre si, estabelecendo uma utópica cumplicidade, presente em todas as manifestações da busca da originalidade e determinada pela dificuldade de se romper com algumas barreiras de identidade. O “livro’ [onde sua palavra não estava sozinha”], que devia resguardar, faz sentido inverso n‘o segredo ao abrigo das intrigas’. Ou porque sabemos que é tarefa árdua e penosa resistir ao meio e sempre preferimos caminhos mais simples e fáceis, ou porque julgamos confiar em ‘capas’ que nos favorecem alguma proteção. Outra ilusão.

Porque a reflexão reside no desperdício do conhecimento [pérolas aos porcos] e KrystalDiVerso, à medida de sua sensibilidade e lucidez, mais uma vez lembra-nos de que nem todo conhecimento empírico, conduzido pela experiência, no sentido da pele, é via de mão única.

É possível também, na lição do ‘outro’, vislumbrar algumas páginas jamais visitadas e fazer dessa experiência uma aventura prazerosa e realizadora, e acima de tudo, sem o manto de qualquer hipocrisia.





O wallpaper leva-me a visualizar um poema em dois, mas entre sístoles e diástoles, o sinto como único. Deixo para uma próxima oportunidade.

Teresa Alves disse...

Do wallpaper:

Acostumada, sem qualquer vínculo com falta de criatividade, tenho por hábito criar no palco de DiVerso um lugar, um ambiente, às vezes um jardim ou um mar, entre muitos outros.

Assim, dentro desses ambientes, sempre de acordo com o tema do poema vigente, respirando a poesia que toca a alma e no arrepio da pele que proporcionam-me muitas reflexões, faço meus comentários, numa espécie de monólogo [entre mim e mim mesma] que na verdade é o lugar onde acredito que todas as verdades e dúvidas devem se encontrar, e para tanto, é sempre confortante. Ainda que, às vezes doa, nem por isso menos gratificante. Porque algumas dores são necessárias, felizmente ou infelizmente.

“Pérolas' e agora, 'Lustrosas”, bem merecidas, convenhamos, tem como tema principal ‘o desperdício do conhecimento’ na imagem ilustrada por um casal de porcos.

E é assim que o contraste mais uma vez se faz necessário nas telas de KrystalDiVerso.

Porque o que deveria ser sujo torna-se limpo e ‘admiravelmente’ bonito.

O ‘senhor porcão’ com um lindo colar de pérolas e a ‘dona porquinha’, com um brinco cravejado de rubis e brilhantes, e longe de seu habitat natural, trazem, não só harmonia e alguma beleza ao poema, mas principalmente segurança.

Segurança[!!] sobre onde estamos, com quem nos relacionamos, sobre o que fazemos de nossas opções e sobre como nos comportamos frente as muitas dificuldades que a vida nos impõe. Se sorrimos ou se choramos, se nos entregamos ou se as enfrentamos.

Neste instante, nada mais me ocorre dizer senão, na posição de discente, agradecer por mais essa aprendizagem.





Bom fim de semana, DiVerso.